Como Abordar G!P E Transexualidade Em Histórias

terça-feira, 20 de dezembro de 2016


Por: Cris Reese

E aí galera! Belezinha?

Sejam bem vindos à minha estreia no blog! - olha ela se achando -.

Sou Cris Reese e venho aqui para trazer um tema, de certa forma, polêmico. Um tema muito usado nas fic's da categoria séries: intersexualidade e transexualidade.

As assanhadas de plantão adoram, né?

Entraremos nesta jornada para entender qual a diferença e como abordar esse tema delicado, o que será um auxílio para sua próxima ou atual fic.

Lembrando que é necessário ter uma mente aberta para esse assunto, que muitas vezes é vulgarizado ou deturpado em algumas histórias. O foco aqui será na abordagem de fic’s, mais detalhes sobre o tema deixarei nas referências.        


Primeiro, as diferenças:
  • Inter e G!P:
    G!P é um termo muito usado nas fic's americanas, Girl with penis (garota com pênis). No entanto, intersexualidade não se restringe apenas às mulheres.
    Intersexo é quando o seu sexo biológico não se encaixa na binária masculina/feminina.
    Ex: Uma mulher nasce com um pênis, desenvolvido ou não. Ou ao contrário, quando o homem nasce com uma vagina. Nesses casos há a possibilidade do individuo ser fértil. Há também o caso de apenas o órgão sexual reprodutor interno ser diferente (útero, escroto, etc).
    Nas aulas de biologia é dado o exemplo do menino que aos 13 anos sentiu muito dor e, ao ir no médico descobriu que era cólica... E que era uma mulher. Alguém lembra dessa aula? Alguns inters não sabem de sua condição até a puberdade.

    Famosos Inter BR
    :
    Roberta close
    (Há mais, porém é apenas especulação)

  • Trans:
    “Transexual é o indivíduo que nasce biologicamente pertencente a um determinado sexo, mas sente-se, percebe-se e tem a vivência psíquica de pertencer ao outro sexo. Dizemos que a identidade de gênero (saber-se homem ou mulher) não é congruente com o sexo anatômico, biológico.” explica Alexandre Saadeh, psiquiatra coordenador do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, da Universidade de São Paulo.
    Em outras palavras, nasceu homem(mulher), mas jamais sentiu ser um(a).

    Famosos trans BR:
    Thammy Gretchen, Lea T, Tereza Brant, etc.



Pesquisar é imprescindível:
Empatia ainda mais. Então, antes de começar sua história, seja o tema primário ou secundário, se coloque na pele de uma pessoa que tem essa condição.

Se fosse você lendo, gostaria da forma como você está sendo retratado? Se sentiria ofendido?

É importante avaliar isso, porque é um grupo discriminado, subjugado e incompreendido de pessoas que você estará falando a respeito.


Identidade sexual:
Ser inter ou trans não é garantia de homossexualidade.

Um nascido homem, transexualizado para mulher, pode continuar gostando de mulher. (Seu cérebro deve ter bugado aqui, mas deu para entender, né? Só esqueça os rótulos que ficará mais fácil).


Caracterização nas fic´s:
É muito comum nas fic's esses personagens serem uma Shane (personagem "fodástico" no quesito “pegação” da série The L word ). Porém, não é por aí que a banda toca. Há sim muita curiosidade acerca do assunto, no entanto, há muito preconceito também. É quase ofensivo dizer que um trans ou inter entra em algum lugar e é aclamado por ser diferente. Há uma distância muito grande da realidade ao escrever isso (com exceção quando as pessoas desconhecem a condição inter ou trans).

Leve isso em conta e observe as opiniões alheias, pesquisar é importante não apenas para deixar a fic realista, mas para seu conhecimento e embasamento sobre vários assuntos também.
No caso dos inter, eles são “invisíveis”, devido ao fato de sua única diferença ser a genitália, muitos se escondem por vergonha.


Escolhendo como tema principal (sugestões):

  • Trans: Uma sugestão é imaginar que a personagem não se sente bem do jeito que nasceu. Sente-se desconfortável dentro do seu corpo. Às vezes beira o desespero por sentir que tem algo errado, aquilo não é quem deveria ser; as roupas incomodam, parecem erradas; o que o espelho reflete não é o que ela sente ser e apenas ela enxerga isso.
    Se optar por colocar a família na história, é interessante demonstrar a posição deles - família - diante disso. Transexualidade não é normalmente aceita pela família, mas isso não é regra.
    Colocar quando e por que o personagem decidiu lutar para mudar, também fica interessante. Os motivos são o que mais definem o caráter e personalidade do personagem nesse caso.

  • Inter: Há duas ideias interessantes que podem ser exploradas. Uma é o personagem não saber de sua condição e descobrir em sua adolescência; e outra é sempre saber, aceitando ou não.
    No primeiro caso, imagine a personagem pertencendo a um gênero e... de repente tudo mudar! Fica a dúvida sobre quem realmente se é, e milhares outras. O que mudaria na vida dela? O que fazer com uma nova identidade? Será que amou seus amigos como amigos ou era algo há mais?
    No segundo caso, a personagem se sente bem com sua condição? A esconde? Sente vergonha? Não está nem aí? Sente orgulho? Esse caso é mais usado com o personagem adulto.      


“Ei, por que fulano não opera?”  

Essa é uma pergunta que muitos leitores fazem. A ideia de optar pelo mais prático é sempre o mais aceito. E esse é um dos motivos da pergunta: “Não seria muito mais fácil operar para não ter que sofrer preconceito?” Esteja preparado para essa pergunta.
E sobre cirurgia de adequação de sexo, a dificuldade da mudança que o transexual deve suportar nunca é o resultado de um capricho, curiosidade ou tédio. A escolha deste caminho ocorre, porque nenhuma outra forma de vida para ele é suportável.

Dica importante:
Não use a palavra “hermafrodita”, por favor, é um xingamento doloroso. É uma palavra estigmatizada que as pessoas associam com ter os dois tipos de genitália funcionando ao mesmo tempo, o que não é possível para o ser humano.

Como tema secundário ou persona coadjuvante:
Em segundo plano é mais fácil, tudo dependerá da abertura e intensidade que decidir dar a personagem. Não deixe de levar em conta a curiosidade do seu leitor, esse assunto costuma gerar muita curiosidade. O que comem? O que fazem? Vejam hoje no glob... Não espera! Canal errado. Voltando...    


Avisos:
Não esqueça de avisar ao seu leitor que há transexualidade na história, algumas pessoas não gostam de ler. Nas opções de avisos há "transexualidade", não deixe de marcar. Marque a mesma no caso de inter.
Mas não pense que esse assunto é apenas against, é possível sair muita comédia daqui. Já li muitas fic's divertidas com esse tema.

Deixo aqui algumas dicas de filmes, na referência há mais.
Qualquer dúvida, deixe nos comentários.


Dicas de filme:         
Tomboy (2011)
Má educação (2004)
Madame butterfly (1993)
Meninos não choram (1999)
House (5 temp, ep 12) série
XXY (2007)
A garota dinamarquesa (2015)


Referência:
Corpo Em Obra - "contribuições Para a Clinica Psicanalitica do Transexualismo" (Cód. 3658614)
Kalaf Cossi, 2014
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Como Descrever Vestuário

terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Por: Ana Mesquita


Olá! Eu sou a Ana, e hoje estou aqui para falar um pouco sobre descrições de vestuário. Vou dividir o artigo em seções, para que as informações não fiquem largadas, tudo bem?

Então vamos lá!

A IMPORTÂNCIA

Assim como toda descrição na sua história, a descrição do vestuário é necessária de acordo com a relevância do que é descrito. Mas a grande questão é: como definir a relevância de uma roupa? Para ajudar com isso, eu vou lhes mostras algumas situações para que vocês tenham uma ideia de qual caminho seguir:

  • Caracterização da personagem: o tipo de vestuário que sua personagem usa é uma maneira de exteriorizar a personalidade dela. Nesse caso, o ideal é descrever suas roupas de forma superficial, não precisa dizer cada peça de roupa que há no seu armário, mas sim focar-se nos pontos em comum dessas roupas: há muitos jeans? Ela customiza suas roupas? Gosta de roupas formais ou informais? Aliás, ela se importa com o que veste?
  • As características físicas da personagem e como elas contrastam com seu vestuário: descrever o que sua personagem veste também é uma forma de descrever seus atributos físicos. Como as cores que ela usualmente usa contrastam com sua pele, seus olhos e/ou seu cabelo? E qual é o caimento das vestes de acordo com o formato do seu corpo? Sua personagem prefere roupas justas ou roupas largas? Mostram muito ou pouco de seu corpo?
  • Situações especiais: assim como o vestuário habitual de sua personagem é importante, ocasiões em que ela é forçada a usar roupas que não está acostumada também o são! Como são essas roupas? Como ela se sente vestindo-as? Em que elas contrastam com as vestes que normalmente usa?

Todos esses pontos são essenciais quando você vai pensar na importância da roupa para a caracterização de uma personagem. É claro que você não precisa responder a todas elas, mas é interessante sempre refletir sobre essas questões na hora em que for descrever o vestuário.


A PARTE VISUAL

Agora vamos para a parte prática da descrição! Quais termos usar para descrever uma roupa em seu aspecto físico? O mais importante nessa parte é conhecer quais os componentes de uma roupa que são mais marcantes, e não se esqueça de sempre pensar em quais deles são relevantes a partir das questões apontadas acima.
  • Peça de roupa: meio óbvio apontar que você precisa indicar qual peça está descrevendo, se é uma blusa, um short, saia, calça, paletó etc. Mas também é importante dizer qual a situação física da sua roupa. Ela é desgastada pelo uso? Puída? Bem cuidada? Desbotada? Amassada? Essas características, além de ajudar na imagem mental do leitor, também vão dizer algo sobre a personalidade da sua personagem.
  • Tecido/Material: temos seda, algodão, poliéster... há uma infinidade de tecidos, alguns mais comuns que outros e você pode usá-los de duas formas em sua descrição
    1. Poupar o esforço de descrições excessivas apenas definindo qual o tecido, principalmente se ele for conhecido. Alguns exemplos: camisa de algodão, os famosos suéteres de cashmere, calças jeans, camisola de seda. São tipos de tecidos que evocam uma imagem rápida ao leitor por serem comuns, então, não é necessário que você perca tempo com outras características, como a textura.
    2. Se for um tecido não tão comum assim, é interessante dar ao leitor mais além do que a simples definição do tecido. Aqui terá de haver mais esforço para descrever outros pontos, então novamente eu tenho que enfatizar a necessidade de se perguntar: qual a relevância dessa roupa?
  • Textura: macia, com paetês, aveludada... Essas são características importantes, principalmente se estiver lidando com cenas de contato físico que envolvem sua personagem, ou mesmo para dar ao leitor a ideia do conjunto que compõe o vestuário se houver texturas diferentes.
  • Estampa/Cores: os pontos importantes ao descrever esse aspecto são:
    1. Esse já foi citado, mas vou reforçar — como as cores e estampas contrastam com as cores do seu personagem? Elas destacam alguma parte? Disfarçam outra parte?
    2. As cores de suas vestes são harmônicas, ou, de alguma forma, elas não se encaixam?
  • Corte: novamente, já falei um pouco sobre isso ali em cima, ainda assim, é sempre importante ressaltar que, se você está descrevendo uma roupa, significa que ela tem importância na caracterização da sua personagem, que por sua vez, significa que é importante dizer como essa roupa cai sobre o corpo dela. Quais partes que eles salientam e quais que disfarça? O quanto ele cobre do seu corpo? Basicamente, é isso que você terá de responder nesse quesito.


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Lembre-se que descrições podem ser chatas, então não se estenda muito nelas. A relevância do que você vai dizer sobre o vestuário também interfere no tamanho da descrição: se for um quadro geral das roupas que a personagem usa, então não é necessário se estender por mais de uma linha ou duas. Se for algo especial, então pode usar mais. Mas, ao priorizar o que você falar, eu quero sugerir uma ordem de quais informações visuais são mais importantes:

Peça de roupa > tecido > estampa/cores > caimento > textura

E é isso, gente, espero ter ajudado!


Referências:
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20 Regras Para Escrever Histórias De Detetives

terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Por: Estrela de Rubi


Olá pessoal! Este é o meu terceiro artigo aqui. Para mim é uma honra ajudar a enriquecer este blog, que tem vindo a ser um grande apoio a quem pretende iniciar-se na longa caminhada de escrever uma história. 

Mas deixemos de lamechices e passemos ao que interessa, né?

Este artigo é um complemento ao da NamelessChick, que elaborou um post sobre o tema “Como escrever um bom enredo policial”. Nas próximas linhas irei expor as vinte regras criadas por S. Van Dine, um escritor de grande renome na literatura policial norte-americana dos anos 20 e 30.   

Para S. Van Dine, um enredo policial é uma espécie de jogo intelectual. O autor deve jogar de uma forma justa com o leitor. Não pode recorrer a truques e a enganos e continuar a manter a sua honestidade como se estivesse a fazer trapaça num jogo de cartas. Deve ser mais sagaz que o leitor e manter o interesse dele através de uma ingenuidade pura. Ao escrever-se uma história policial há leis muito definidas – não escritas, talvez, mas nenhuma delas menos obrigatória; e todos os criadores de ficção policial que se auto-respeitem devem observá-las fielmente.

Eis, então, uma espécie de “Credo” de Van Dine, baseado na sua prática como escritor de histórias policiais:

1- “O leitor deve ter as mesmas oportunidades que o detetive em resolver o mistério.”
Todas as pistas devem ser claramente referidas e descritas.

2- “Não se deve jogar com nenhum truque ou engano voluntário, para além daqueles desempenhados legitimamente pelo próprio criminoso ou detetive.”

3- “Não deve haver interesses amorosos na história.”
Introduzir o amor é misturar uma experiência puramente intelectual com sentimentos irrelevantes. O assunto em mão é levar o criminoso à barra da justiça, não levar um casal de apaixonados ao altar do matrimônio.

4- “O próprio detetive, como um dos investigadores oficiais, nunca deve ser o culpado.”
Esse é um truque sujo, equivalente a trocar ouro por prata.

5- “O culpado deve ser descoberto pela dedução lógica”
Não deve ser pelo acaso, pela coincidência ou por uma confissão imotivada. Resolver um problema policial assim é o mesmo que enviar o leitor caçar gansos selvagens e dizer-lhe, depois de haver falhado, que durante todo o tempo tínhamos conosco o objeto da sua procura. Um autor assim não passa de um charlatão barato.

6- “O romance policial deve incluir um detetive; e um detetive só o é se detectar, se descobrir.”
A função de um detetive é reunir pistas que eventualmente conduzam à pessoa que realizou o trabalho sujo; e se o detetive não chegar às suas conclusões através de uma análise dessas pistas, resolveu tanto o problema como o estudante que chega a uma resposta através de uma cábula(cola).

7- “Numa história policial tem de haver um cadáver”
Para Van Dine, não há crime como o assassinato. Trezentas páginas é carga de mais para um crime que não seja homicídio. Afinal, deve-se recompensar a perda de tempo e de energia do leitor. Os leitores são essencialmente humanos e, portanto, um crime de homicídio desperta o seu sentido de vingança e de horror. Eles desejam levar o criminoso à justiça; e quando “o crime mais horrendo” tiver sido cometido, inicia-se a caça com todo o entusiasmo justiceiro de que é capaz o leitor mais cavalheiresco.

8- “O problema do crime deve ser resolvido por meios estritamente naturais.” Esses métodos de descobrir a verdade através de processos ocultos, como sessões espíritas, leitura da mente, quiromancia e outros, são tabu. O leitor deve estar em pé de igualdade com um detetive racional, mas se tem de competir com o mundo dos espíritos e percorrer à quarta dimensão da metafísica, é derrotado.

9- “Só pode haver um único detetive – isto é, um protagonista da dedução.” Arranjar três ou quatro, ou por vezes um grupo de detetives, para resolver um problema é somente dispersar o interesse e interromper o fio direto da lógica, como tirar vantagem injusta do leitor que, desde o início, entra em competição com o detetive numa batalha mental. Se houver mais do que um detetive, o leitor não sabe quem é o seu co-dedutor. É o mesmo que colocar o leitor a correr sozinho contra uma equipa de estafetas.

10- “O culpado deve ser uma pessoa que desempenhou um papel mais ou menos proeminente na história”
Isto é, uma pessoa com quem o leitor esteja familiarizado e por quem se interesse. Atribuir o crime, no capítulo final, a um estranho ou a uma pessoa que desempenhou um papel sem importância na história é confessar a incapacidade de competir com o leitor.

11- “Criados – como mordomos, empregados de mesa, copeiros, cozinheiros, etc… não devem ser escolhidos pelo autor como os culpados.”
Seria uma solução demasiado fácil. É insatisfatório e leva o leitor a sentir que esteve a perder o seu tempo. O culpado deve ser uma pessoa de bem – alguém de quem em geral não se suspeita; é que se o crime foi a obra sórdida de um demente, o autor estaria a perder o seu tempo a descrevê-la na forma de livro.

12- “Tem de haver um culpado, por muitos crimes que tenham sido cometidos.” O culpado pode, naturalmente, ter um ajudante ou cúmplice menor; mas o ônus completo deve cair sobre um único par de ombros: toda a indignação do leitor deve concentrar-se numa única figura negra.

13- “Sociedades secretas, camorras, máfias, etc… não têm lugar numa história policial.”
Aqui, o autor entra na ficção e no romance de serviço secreto. Um crime fascinante e verdadeiramente interessante fica irremediavelmente estragado com um tal culpado. Uma história policial deve dar ao criminoso uma boa oportunidade, mas é ir demasiado longe envolvê-lo numa sociedade secreta (com os seus ubíquos santuários de proteção). Nenhum criminoso de classe e estilo iria aceitar tais ajudas na sua luta com a polícia.

14- “O método do crime e os meios para o detectar devem ser racionais e científicos.”
Isto é, a pseudociência e instrumentos puramente imaginativos e especulativos não devem ser tolerados num romance policial. Por exemplo, a morte de uma vítima por um elemento recém-descoberto, um super-rádio, por exemplo, não é um problema legítimo, nem tão pouco deve intervir numa droga rara e desconhecida, que apenas existe na imaginação do autor. Um escritor de histórias policiais deve limitar-se, toxicologicamente falando, à farmacopéia. Uma vez mergulhado no mundo da fantasia, ultrapassou as fronteiras da ficção policial, aventurando-se por caminhos desconhecidos.

15- “A verdade do problema deve ser sempre evidente – desde que o leitor seja suficientemente sagaz para a detectar.”
Com isto, Van Dine quer dizer que se o leitor, depois de conhecer a explicação do crime, reler o livro, deve verificar que a solução afinal tinha estado patente desde o princípio – que todas as pistas realmente apontavam para esse culpado – e que, se tivesse sido tão esperto como o detetive, teria sido capaz de resolver sozinho o mistério sem chegar ao último capítulo. É evidente que o leitor esperto frequentemente resolve o problema. E uma das teorias básicas de ficção policial é que se uma história policial é estruturada como deve ser, é impossível ocultar a solução a todos os leitores. Haverá inevitavelmente um certo número deles tão perspicazes como o autor; e se o autor manifesta o adequado desportivismo e honestidade na sua declaração e projeção do crime e das suas pistas, estes leitores perspicazes, pela análise, eliminação de hipóteses e lógica, serão capazes de apontar o dedo ao culpado tão depressa quanto o detetive. E aqui jaz o gozo do jogo. Aqui temos uma explicação para o fato de leitores que repelem um romance popular vulgar serem capazes de devorar um romance policial.

16- “Uma história policial não deve conter grandes passagens descritivas”
Não deve demorar-se em questões secundárias, em análises subtilmente elaboradas da personalidade, nem deve ter preocupações de “atmosfera”. Tais questões não desempenham nenhum papel vital no relato do crime e das deduções. Suspendem a ação e apresentam questões irrelevantes para o alvo fundamental que é apresentar um problema, analisá-lo e conduzi-lo a uma conclusão bem sucedida. É claro que tem de haver descrição suficiente e um delinear das personagens a fim de dar verossimilhança ao romance; mas quando um autor de uma história policial atinge aquele ponto literário em que cria uma sensação dominante de realidade e atrai o interesse e a simpatia do leitor pelas personagens e pelo problema, então foi demasiado longe na técnica puramente “literária” relativamente ao que é legítimo e compatível face às necessidades de um documento de um problema criminoso. Uma história policial é um assunto sinistro e o leitor entra nela não pelo valor literário e estilo ou pelas lindas descrições e projeção das personalidades, mas pelo estímulo mental e pela atividade intelectual – tal como se vai assistir a um jogo de futebol ou como quando se resolve um problema de palavras cruzadas. A descrição da beleza do campo dificilmente aumenta o interesse pela luta entre duas equipes adversárias; e dissertações sobre etimologia e ortografia intercaladas nas definições de um problema de palavras cruzadas tendem apenas a irritar a pessoa interessada na correta resolução do problema.

17- “Um criminoso profissional nunca deve sofrer o ônus da culpa de um crime numa história policial.”
Os crimes cometidos por arrombadores e bandidos são do foro do Departamento da Polícia – não de autores e de brilhantes detetives amadores. Tais crimes pertencem ao trabalho rotineiro das Brigadas de Homicídios. Um crime realmente fascinante é aquele cometido por um pilar de uma igreja ou por uma solteirona conhecida pelas suas obras de caridade.

18- “Um crime numa história policial nunca deve transformar-se num acidente   ou num suicídio.”
Terminar uma odisséia de pesquisa intensa com um tal anticlímax é pregar uma partida imperdoável ao leitor. Se quem compra um livro exigisse a devolução do dinheiro com a alegação de que o crime foi uma farsa, qualquer tribunal com um mínimo de sentido de justiça decidiria em seu favor e repreenderia severamente o autor que assim teria enganado um leitor cheio de boas intenções.

19- “Os motivos de todos os crimes de uma história policial devem ser pessoais.”
Tramas internacionais e políticas bélicas pertencem a uma categoria diferente de ficção – as histórias de serviços secretos, por exemplo. Mas uma história de um crime deve refletir as experiências diárias do leitor e dar-lhe uma certa saída para os seus próprios desejos e emoções reprimidas.

20- Os próximos pontos são alguns dos instrumentos que nenhum autor policial, que se preze, utilizará nas suas histórias. Para Van Dine, as seguintes alíneas têm sido usadas com demasiada frequência e são conhecidas por todos os verdadeiros amantes da literatura do crime. Utilizá-las é confessar a incapacidade do autor e a sua falta de originalidade.
a) “Determinar a identidade do culpado pela comparação da “bituca” deixada na cena do crime com o cigarro recentemente fumado pelo suspeito.”
b) “A sessão espírita para assustar o culpado, levando-o a ceder.”
c) “Impressões digitais forjadas.”
d) “O álibi da pessoa parva.”
e) “O cão que não ladra e, portanto, revela o fato de o intruso ser familiar.”
f) “A descoberta final do crime num gêmeo ou num parente muito parecido com a pessoa suspeita mas inocente.”
g) “A seringa hipodérmica e o remédio em gotas”
h) “A entrada do criminoso numa sala trancada depois de, eventualmente, a polícia ter lá estado.”
i)“O teste da associação de palavras para a detecção do culpado.”
j) “A carta cifrada ou codificada que é eventualmente descoberta pelo investigador.”      

E aqui termino, desejando a todos os futuros romancistas policiais muita sorte para conseguir escrever uma história seguindo com rigor cada regra descrita por Van Dine.  ;)



BIBLIOGRAFIA:
S.S. Van Dine; “The Winter Murder Case”; Clube do Crime; 1995; Publicações Europa-América; pág 89
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