Como escrever de forma coerente

segunda-feira, 25 de abril de 2016


Por: Ana Mesquita

Oi, gente! Eu sou a Ana, e hoje nós vamos falar um pouco sobre como escrever da forma mais coerente possível.

Antes de começar de fato com as dicas, é necessário deixar bem explícito o que é a coerência, qual a necessidade dela e por que você deve almejá-la em sua escrita. E isso não vale apenas para as suas histórias originais ou fanfics, mas também para aquela redação da escola, do ENEM, aquele trabalho escrito que você tem de entregar, algum comunicado que tem de fazer... Enfim, absolutamente tudo o que você faz objetivando que outra pessoa compreenda, necessita de coerência.

Mas afinal, o que é coerência?

Algumas das definições que o dicionário Priberam dá a essa palavra (coerência) são as seguintes: 

2. “Conformidade entre fatos ou ideias.”

3. “Nexo, conexão.”

Como eu achei esses conceitos um tanto quanto rasos demais para nosso objetivo, procurei um pouco mais e encontrei esta definição aqui:

“Coerência é a característica daquilo que tem lógica e coesão, quando um conjunto de ideias apresenta nexo e uniformidade. Para que algo tenha coerência, este objeto precisa apresentar uma sequência que dê um sentido geral e lógico ao receptor, de forma que não haja contradições ou dúvidas acerca do assunto. A origem da palavra “coerência” está no latim cohaerentia, que significa “conexão” ou ‘coesão’”.

Basicamente, o que esse texto nos diz é que ter coerência significa ter sentido.

Você pode estar pensando que isso é óbvio, afinal, ninguém perderia tempo escrevendo coisas que outra pessoa não conseguiria entender...

O problema é que, algo que faz um sentido enorme na sua cabeça pode não ser tão óbvio assim para outra pessoa. Por exemplo, quando o professor vai explicar aquela matéria que você tem toda a dificuldade do mundo. Nada do que ele diz faz sentido, certo? Apesar disso, está tudo muito claro na cabeça dele.

É a mesma coisa em uma história. Você pode conseguir visualizá-la perfeitamente em sua cabeça, mas você precisa ser muito cuidadoso para passar ao leitor exatamente aquilo que você quer passar.

E é aí que entra a coerência.

E quero avisar que se você tem dúvidas mais complexas a respeito de algum dos tópicos desse artigo, aqui no blog tem outros artigos bem mais detalhados do que esse aqui. Minha intenção é apenas lhe mostrar os pontos que você precisa se atentar para dar coerência ao seu texto, okay?

Então, vamos começar!

Defina um objetivo e organize suas ideias

Para explicar melhor vamos definir duas esferas: a da história completa e a do capítulo. 

Vamos começar com a organização da esfera da história completa. Assim que você decide começar uma história, a primeira coisa a ser feita é planejá-la, certo? Você define início, meio e fim, com todos aqueles pormenores que vão delinear a sua escrita. E só depois de organizar essas ideias e definir esse objetivo é que você pode passar para a segunda esfera.

Na segunda esfera, que é a do capítulo, há muito mais detalhes a serem pensados. No entanto, a primeira coisa a se fazer é perguntar-se: qual o seu objetivo com aquele capítulo? É apresentar ao leitor seu personagem principal? É uma reviravolta? Revelar um segredo? Não importa qual seja, todo capítulo deve ter um objetivo e você precisa tê-lo claramente na cabeça enquanto está escrevendo-o.

Para alcançar seu objetivo, você provavelmente tem um monte de ideias para escrever, um monte de acontecimentos, diálogos, descrições, sentimentos, etc.

Primeiramente, organize tudo isso em sua cabeça e se foque no que é essencial.

Não desperdice tempo escrevendo diálogos sem nenhum objetivo. Como pessoas apenas se cumprimentando, quando isso não tem um impacto real na relação delas. Não descreva coisas que não sejam importantes, porque, quando você gasta palavras com algo, o leitor pressupõe que aquilo vai ter algum significado maior para a história, então, se não tiver, apenas não o faça.

Se você estiver escrevendo ações, seja objetivo, principalmente se o que você está desenvolvendo envolve mais de uma ação ou então mais de uma pessoa. Certifique-se de que cada etapa das ações está descrita de uma maneira clara para o leitor. Não se esqueça de indicar também a conclusão de uma ação antes de começar outra.

Já vi muitas histórias em que as cenas que envolviam muitas ações ficavam confusas e, quando parecia que o autor começava a ter dificuldade para articular todas as informações que ele mesmo inseriu na cena, ele ou ela simplesmente pulavam para uma próxima. Não façam isso, mesmo que tenham dificuldades, a escrita nem sempre é algo legal, muitas vezes a gente tem que passar por partes chatas, mas não desanimem, okay? 

Mantenha e mesma narração com a qual começou

Se você começou a escrever em terceira pessoa e usando verbos no pretérito, continue com essa mesma narração, a não ser que haja motivo plausível para mudar. Mas não use a narração em terceira pessoa subitamente, e nem deixe escapar verbos que deveriam estar no mesmo tempo verbal do que a maioria dos outros.

Vamos ver esse exemplo aqui:

Lúcia acorda com a música irritante do seu despertador. Inconscientemente ela aperta o botão soneca e voltou a dormir. Horas mais tarde,abre os olhos de repente, atrasada para seu primeiro dia de aula. Levantou-se com um pulo e correu para o banheiro. Ao me olhar no espelho, faço uma careta de desgosto para as bolsas roxas embaixo dos meus olhos. Nem maquiagem daria jeito naquilo.

Conseguem perceber o incômodo que dá todas essas incoerências? Como leitores, ficamos tão angustiados com essas incongruências que não prestamos tanta atenção no que realmente está sendo dito. Pode até parecer bem óbvio, mas ainda assim acontece, então fique atento a isso em suas revisões.

Tenha um conhecimento razoável sobre gramática

Não precisa acertar tudo. A questão aqui não é conhecer cada detalhe morfossintático da Língua Portuguesa, mas alguns pontos são extremamente necessários para que o leitor entenda sua história. Vou indicar aqui três que eu elegi como os mais importantes:

  • Atente-se à grafia das palavras. Muitas vezes, palavras ou expressões escritas de forma errada podem gerar interpretações completamente opostos, como acontece com o mas/mais e a expressão de “de encontro a” e “ao encontro de”.
  • Pontue o mais corretamente possível. Não tem importância se você esquecer-se de uma vírgula ou outra, mas se o seu texto tiver constantes equívocos sobre isso, o leitor pode se confundir.
  • Preste atenção à concordância. A língua portuguesa pode ser muito subjetiva, muitas vezes ocultamos termos que ficam subentendidos, mas, para fazer isso de forma efetiva sem causar confusão e/ou ambigüidade temos que garantir que todos os termos que estão conectados também estão concordando entre si.

Seja fiel aos seus personagens

Pense no cuidado com que o autor da história original criou seu personagem, ou mesmo você, se for original ou se tiver dado uma nova personalidade para ele. Não é legal simplesmente ignorar isso e forçar situações que não estão de acordo com seu personagem. 

Não seria coerente, por exemplo, que a Hermione Granger de Harry Potter bebesse muito em uma festa e dançasse loucamente. A não ser que aconteça em uma fic OOC (out of character, ou seja, que não é fiel ao personagem original), isso não faria sentido nenhum e deixa o leitor com uma sensação de “o que foi que eu perdi para chegarmos nesse ponto?”.

E mesmo que você quem tenha criado seus personagens, mantenha-se fiel à personalidade que criou para ele. Não é convincente, por exemplo, que um personagem apresentado como inteligente não perceba o que ocorre ao redor dele, nem tenha capacidade de pensar em soluções para seus problemas. Assim como não é coerente que aquele personagem que foi sempre conciso apareça de repete com um discurso enorme. 

Deu pra entender onde quero chegar, certo? Então, ainda com relação aos personagens:

Cuidado com a forma com que você se refere a eles

“O loiro”, “o moreno”, “o mais alto”, “o mais magro”... Todas essas são características físicas, e além de causarem um estranhamento ruim ao leitor quando usadas para se referir ao personagem, eles podem ser confusos. Afinal, talvez quem estiver lendo possa esquecer-sedessa característica específica da pessoa a qual você se refere e apenas torcer para estar associando-a ao personagem certo. Não soa muito legal, certo?

Há vários recursos para impedir a repetição do nome de um personagem no texto, você pode usar os pronomes “ele”, “ela”, “eles” ou “elas”. Ou então, pode construir algo em que apenas a desinência do verbo seja suficiente para deduzir rapidamente a quem está se referindo.

Verossimilhança

A verossimilhança é a qualidade daquilo que é verossímil. E verossímil nada mais é do que: 

1. Que tem aparência de verdade.

2. Semelhante à verdade. = PLAUSÍVEL, PROVÁVEL

Um texto verossímil não é aquele que segue todas as leis da realidade, mas sim aquele que convence o leitor de que aquilo é possível, de que aquela é a verdade que há na sua história e que ela faz sentido! Não basta dizer que Maria saiu voando e pronto. Você tem que dar uma explicação plausível para que a gravidade subitamente tenha parado de agir sobre ela.

Vamos pegar Star Wars por exemplo. Se você já assistiu a algum filme da franquia, sabe que muita coisa ali não segue as leis da física, mas ainda assim, faz você acreditar que aquilo é não apenas plausível, mas que também pode ser real. Se não viu... Bom, acho que pegou a ideia geral.

Enfim, convença quem quer que esteja lendo sua história de que aquilo que está escrito pode ser real!

Releia seu texto

Para mim, essa é a dica mais importante que darei: depois que você tiver escrito seu capítulo se atentando a todos os tópicos anteriores, releia-o e note se você precisou voltar em algum ponto da sua leitura e ler novamente para que aquilo que você tenha escrito faça sentido em sua cabeça.

Se você precisar reler algo, apague esse trecho e escreva-o novamente de outra forma, de preferência mais objetiva.Se desfaça também das ambiguidades. Se algum trecho de sua história puder se interpretado de mais de uma forma, reescreva-o.

Evite, de todas as maneiras possíveis, que seu leitor tenha que ler o texto mais de uma vez para entender o que você quer passar. Isso quebra a fluidez e o clima da história. Afinal, se você estiver ocupado tentando entender o que está acontecendo naquela cena, não vai ficar preocupado com o que o personagem principal está passando, muito menos comovido. Ou seja, evite incoerências para que a leitura as sua história fluída e agradável. 

Considerações Finais:

Eu sei que todas essas informações podem ser assustadoras. Mas quando começar a escrever, você vai perceber que tem mais facilidade com alguns desses tópicos do que com outros. E eles vão se tornar instintivos em sua escrita.

No entanto, se, de fato, você tem algum problema em um desses aspectos, se esforce. Reescreva quantas vezes forem necessárias e leia o quanto puder sobre o assunto. O ato de construir uma história nunca é algo fácil ou rápido, mas a prática traz melhoras. Então a dificuldade que você tem ao escrever algo hoje, amanhã estará menor, e menor, e menor, até ser trivial. 

Lembrando que, apesar de eu ter passado por todos esses tópicos de uma forma superficial, aqui no blog tem vários artigos lindos sobre todos esses assuntos com dicas preciosas pra quem precisar saber mais sobre. É só você clicar ali na aba “Links Uteis” que irá encontrar uma lista de postagens dividias por assuntos.


A minha intenção era apenas apontar as coisas com as quais você precisa se preocupar. Agora, fica com você pesquisar mais sobre o assunto e aplicar esse novo conhecimento da melhor forma possível em sua história.

Referências:

2 comentários:

  1. Eu gostei muito desse texto! Tem muitas coisas que eu faço sem perceber, mas quando esqueço, é bom pontuar para ver se "cumpri o ritual" da coerência na narrativa. Adoro esses textos do blog, demais, salvo todos nos favoritos e leio sempre que posso, de novo e de novo.

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