Como desencalhar fanfics de uma cena chata

terça-feira, 5 de abril de 2016


Escrito por: Estrela de Rubi 



Eufóricas saudações! 



É a minha primeira contribuição no blogue, me desejem sorte.

Este post é para aqueles que estão destruindo o computador de pancada ou jogando folhas repletas de palavras vãs no lixo só porque sua história está encalhada numa cena chata. 

Pois é, caros autores, uma história é um labirinto que nós próprios criamos e que, se não tivermos cuidado, podemos acabar nos perdendo nele. Hoje estou aqui para ajudá-los a encontrar o melhor caminho para sair desse labirinto.

Acabaram de escrever uma cena chata e não sabem o que fazer?

Bom, primeiro vamos à solução mais simples:


Eliminá-la! 


Sim, estou falando sério. Por mais que vocês tenham imaginado essa cena há décadas, por mais que tenham partido a cabeça tentando elaborá-la, digam-lhe adeus. Mas esperem! Não façam isso de forma leviana. Primeiro, vocês têm que responder a estas três perguntinhas básicas: 


— A cena apresenta uma nova perspectiva sobre o personagem, isto é, revela algum caracter inédito de um dos personagens?
— A cena faz avançar a história para o cerne do enredo principal?
— A cena transmite alguma emoção cômica ou dramática? 


Se vocês responderam “Não!” a pelo menos duas dessas três perguntas, então gente, lamento, mas essa cena não vai sobreviver ao ânimo dos seus leitores. Sim, eles morrerão de tédio. É chegada a hora de vocês eliminarem essa parte, porque mais vale matarmos uma cena do que matarmos a história inteira. 

Se, pelo contrário, vocês responderam “Sim!” a duas dessas três questões, então parabéns, estão no caminho certo! É tempo de arregaçarmos as mangas e encararmos o problema de frente. Pois é, vamos fazer magia para tornar a cena chata numa cena dinâmica. Ela demonstra ser fundamental para a história e vocês terão de a manter viva. 

É necessário imprimir transformação na cena para dinamizá-la e fortalecê-la.



Mas como fazer isso sem arrancar os cabelos? 



Simples, nós, os autores, temos a faca e o queijo na mão. Podemos mexer com as emoções dos leitores apenas com poucas palavras, que, bem colocadas, fazem uma cena parecer viva, palpável, quase real.

Antes de mais, devemos planejar a cena antes de escrevê-la, esquematizando-a por passos, onde deverão ter em conta:



— o objetivo de cada personagem;
— o que o personagem obterá no final;
— estado de espírito do personagem no início e no final;
— quais as pequenas revelações na história;
— avaliar o nível de tensão antes e depois da cena.


Toda a cena deve conter esses pontos para que fique com lógica e se insira convenientemente no enredo. Com estes objetivos delineados, a nossa tarefa fica muito mais facilitada. 

Então, chegou a hora de acorrentarmos os nossos leitores à cena “chata” para que eles, no final de cada página, sintam uma vontade irresistível de ler a seguinte. Chegou o momento de lançarmos a nossa teia de palavras, o nosso labirinto de emoções para que eles se percam no vício da leitura. 


E isso é muito fácil! 



Primeiro, vocês terão de decidir se querem que a cena cause impacto ou suspense



— Para causar impacto, escrevam o cerne da cena logo de início, isto é, escrevam o ponto alto da cena e só depois explorem a tomada de abertura, o cenário, a reação e as consequências desse ponto alto. Por exemplo, “— Pai, eu estou grávida! — revelou com voz trêmula. Louise estava de pé, de frente para o senhor Laércio que lia o jornal sentado no sofá.” 

— Para causar suspense, explorem primeiro o fluxo emocional da cena, descrevam o cenário, os sentimentos do personagem, os seus gestos e só depois, lancem o ponto alto da cena, ou seja, preparem o leitor antes de jogar o ponto alto em cima dele. “Louise, torcendo as mãos de nervosismo, deteve-se de frente para o senhor Laércio que lia o jornal sentado no sofá. — Pai, eu estou grávida — revelou com voz trêmula.” 



Para mim, tanto o suspense quanto o impacto são excelentes formas de cativar o leitor, mas só vocês poderão escolher o que se adapta melhor à sua cena. 

Independentemente da forma como querem expô-la, o fundamental é torná-la dinâmica e para isso devem ter em conta:



Abreviar a cena o mais possível. Não mastiguem muito a cena, mas também não a lancem numa só tacada. Encontrem um meio-termo. 

Fujam das cenas planas, previsíveis. Nunca se esqueçam, as surpresas são as suas melhores amigas.

— Descrevam a cena numa perspectiva mais ampla, de maior importância para o enredo. Tentem não descrever todos os detalhes para não cansar o leitor.

— Adicionem algum ruído para além dos diálogos, por exemplo “escutam-se passos”, “o vento uiva”. Isto ajuda a transportar o leitor para dentro da história.

— Deem cor às cenas para enfatizar as emoções. Por exemplo, se for uma cena de conflito, utilizem frases como “o lugar estava envolvido na penumbra”; se for uma cena de felicidade, paz, conforto, usem frases como “o sol brilhava quente naquela manhã”. 

— Adicionem pequenas ações entre os diálogos, por exemplo, “O chefe, irado, inclina-se sobre o empregado que o olha assustado — Você está despedido!” 

Descrevam o ambiente, o cenário da cena. Expliquem brevemente onde os personagens se encontram, por exemplo “Estava frio naquele porão coberto de pó e de teias de aranha”. 

Nunca comecem nem terminem o capítulo/história com uma cena que vocês considerem secundária ao enredo.

Não utilizem muitos adjetivos nem muitos diálogos filosóficos. 

— Se for possível, intercalem a cena com outra mais emotiva, mais tensa.

Transmitam as emoções/sensações dos personagens, por exemplo “Um calafrio percorreu todo o seu corpo”. 




Estas são algumas características que devem dominar para que a cena deixe de ser chata e passe a ser uma das mais fortes, intensas e dinâmicas da história. E nunca se esqueçam, revisem o texto várias vezes para cortar qualquer coisa que não contribua diretamente para a evolução da trama.



Mais vale matar uma cena do que matar a história inteira.




*****


Biblio/webgrafia:

NASCIMENTO, N.; PINTO, Castro J. – “A dinâmica da escrita: como escrever com êxito” [4ºedição], Plátano, 2005

Agradecimentos: 

Um agradecimento especial a Mya Zurck que me auxiliou a desenvolver este artigo. 



4 comentários:

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