As Mil e Uma (e meia) maneiras de (d)escrever mensagens em livros [01/02]

terça-feira, 24 de novembro de 2015

Por: Ladybug

Aspas. Itálico. Tabulação dupla. Tudo misturado. Coisa nenhuma. Apenas fonte de letra diferente, ou ainda a mesma fonte de letra, só que escrita com o tamanho menor — é possível encontrar várias maneiras de representar a modernidade das mensagens de texto via telefone (sms), aplicativos de internet, ou pelo clássico e-mail, tanto nos livros quanto nas fanfics.
A dúvida surgia sempre, e por não encontrar um texto que me desse uma orientação mais precisa, acabei descobrindo que tal orientação simplesmente não existe! Não é desesperador, tampouco significa que estamos livres na ousadia. As coisas não funcionam assim. É importante sermos coerentes e respeitarmos a norma culta.
A matéria não vai abordar a gramática ao escrever as mensagens, até porque é óbvio que não está certo sair abreviando tudo o tempo todo, devemos nos lembrar que o livro vai representar o assunto que será transmitido através de uma determinada mensagem, e não que a mensagem é de fato o que está acontecendo, portanto, podemos guardar aquele montão de “vc, qqr, bj, fds...” etc... etc... para nossos momentos de lazer e liberdade textual na nossa vida cotidiana. Então jogue fora, sem medo, esse conceito de que para descrever mensagens moderninhas, é preciso abusar da linguagem informal.
Aqui, vamos conversar sobre a diagramação dessas mensagens. E nos divertirmos um pouco com as várias maneiras, muito bacanas, de narrar o que os personagens estão fazendo, como estão se comunicando.

Na era dos e-mails...

Quem nunca se deparou com uma troca de e-mail durante uma narrativa, sem dúvida anda lendo muito os conservadores textos escritos antes da década de 70. Pombos-correios e telégrafo eram o top do momento nos livros ao estilo A Volta ao Mundo em Oitenta Dias. Com a escrita cada vez mais ambientada nos tempos contemporâneos, nada menos espantoso do que a representação da troca de mensagens eletrônicas entre personagens. Clássico, incorporado desde 1973, o famosíssimo correio eletrônico é descrito em diversas narrativas, “transcrito” também. A diagramação dessas conversas via e-mail costumam variar de acordo com o profissional que acerta as arestas dos livros, ou mesmo o autor, que decide o formato da sua edição.
Um exemplo, facilmente difundido e visto por milhares de pares de olhos, foi a troca indiscreta e dominadora de mensagens entre Christian Grey e Anastasia Stelle. A autora da trilogia (+1) de “50 Tons de Cinza” descreveu os e-mails com direito a data, horário, assunto... Igualzinho como se tivesse feito um print do correio eletrônico dos personagens e transportado para os livros.
(primeira troca de mensagem entre os personagens de E.L. James):


"De: Christian Grey
Assunto: Seu novo computador

Data: 22 de maio de 2011 23:15

Para: Anastasia Steele
Prezada Srta. Steele,
Creio que tenha dormido bem. Espero que faça bom uso deste laptop, como discutimos.

Aguardo ansioso para o jantar de quarta-feira.
Responderei com prazer a quaisquer perguntas antes disso, por e-mail, se a senhorita assim o desejar.
Christian Grey
CEO, Grey Enterprises Holdings, Inc.

________________________________
De: Anastasia Steele
Assunto: Seu novo computador (emprestado)

Data: 23 de maio de 2011 8:20

Para: Christian Grey
Dormi muito bem, obrigada — por algum motivo estranho —, Senhor. Entendo que o computador é um empréstimo, portanto, não pertence a mim.
Ana"


Repare que a autora passou uma linha para dividir as mensagens. Mas se um espaçamento duplo tivesse sido a escolha para separar os e-mails, também não haveria dificuldade para o leitor compreender o detalhamento de quem para quem nas mensagens. Foi mais ou menos o que optou a autora de Peça-me o que quiser, Megan Maxuell, entre uma mensagem de e-mail e a resposta, ela narrou o sentimento da personagem:


O livro Os e-mails de Holly, da autora Holly Denhan (que é um pseudônimo e, enfim, a história desse pseudônimo é longa, literalmente, “700 páginas”) é ainda mais interessante, pois o leitor praticamente olha por cima da tela, do monitor. O leitor (alerta de voyeurismo cômico) fica de frente para a caixa de e-mail da autora, não tem nada a ver com o print como no caso de E.L. James, a diagramação dos e-mails de Holly é muito legal e diferente. Aqui vai uma foto para verem do que estou falando:



Bem bacana, não é?
Parecido também com o livro @mor, do autor Daniel Glattauer (ele dispensou o itálico no corpo do e-mail, usou-o apenas em sua narrativa. Com a formatação especial, manteve os “RE” e “FW” em negrito):

33 dias depois

Assunto: Cancelamento
Prezados senhores e senhoras da editora Like,

Caso o fato de os senhores ignorarem insistentemente minha tentativa de cancelar uma assinatura tiver como objetivo não deixar cair o volume de vendas de seu produto, que está em lamentável e constante decadência, infelizmente devo lhes comunicar: eu não vou mais pagar!
Cordialmente,
E. Rothner

Oito minutos depois

Fw:
A senhora se enganou. Este é um e-mail particular. Meu endereço eletrônico é woerter@leike.com. A senhora certamente queria escrever para woerter@like.com. A senhora já é a terceira pessoa que me pede o cancelamento. A revista realmente deve ter ficado muito ruim.

Cinco minutos depois

Re:
Oh, me desculpe! E obrigada pelo esclarecimento.
Saudações,
E. R.”


Há um outro livro que traz uma diagramação diferente nessa troca de e-mails entre personagens, um montão de pares de olhos também passaram por esse livro. John Green foi direto ao ponto:

Na manhã seguinte, acordei cedo e fui logo verificar meus e-mails.
lidewij.vliegenthart@gmail.com tinha finalmente respondido.

Cara Srta. Lancaster,
Temo que sua fé tenha sido depositada no lugar errado — mas, para falar a verdade, é isso o que geralmente acontece com a fé. Não posso responder às suas perguntas, pelo menos não por escrito, porque redigir tais respostas constituiria uma continuação de Uma aflição imperial, que a senhorita poderia acabar publicando ou compartilhando na rede global que substituiu os cérebros de sua geração. Poderíamos utilizar o telefone, mas, nesse caso, a senhorita poderia acabar gravando a conversa. Não que eu não confie em você, é claro, mas não confio em você. Ai de mim, cara Hazel, eu jamais poderia responder a tais perguntas exceto pessoalmente, e você está aí, ao passo que eu estou aqui. (...)”

Em A Culpa é das Estrelas tem um bocado de troca de mensagens eletrônicas (e-mail, mensagem de texto via sms...), o diagramador manteve espaçamento entre a descrição da narrativa e narrativa das mensagens, mas, em qualquer dos casos, não houve detalhamento ao estilo print de mensagens, apenas o bom e velho itálico. E não encontramos caixinhas de texto desenhadas. A gente pode encontrar essas caixinhas em alguns livros também, mas é mais recorrente em mensagens via sms.
Eu li O Diabo veste Prada, da Lauren Weisberger, e por lá não há nenhum tipo de diferenciação na diagramação de e-mails. Chequem como ficou a cena:

“— Sim, ele é surpreendente — Emily dizia com um suspiro, torcendo o fio do telefone em seu dedo indicador. — Foi o fim de semana mais romântico que já vivi.
Pim! Você tem um novo e-mail de Alexander Fineman. Clique aqui para abrir. Opa, divertido. Elias-Clark tinha isolado o mensageiro instantâneo, mas, por algum motivo, eu ainda recebia notificações instantâneas de que tinha novo e-mail.
Oi, gata, como foi seu dia? As coisas aqui estão uma loucura, como sempre. Lembra que lhe contei que Jeremiah tinha ameaçado todas as meninas com um estilete que havia trazido de casa? Bem, parece que ele falava sério (...)”

Simples assim. Sem itálico, nem recuo especial, nem nada (as aspas acima ficam por conta da citação).
Então, até agora, temos alguns exemplos de gêneros e autores diversos, que conseguem se fazer entender sem que isso agrida nossos olhos (estou falando de diagramação, não levem tão a sério os exemplos, eu não estou defendendo nenhum livro aqui).
Beleza, encontramos um monte de maneiras de citar e-mails nos livros, mas, e em fanfic? Tem jeito de diagramar, de mostrar que é um e-mail sem que fique tosco? Ora, sem dúvida!
Apesar de inúmeras restrições que um site tem, o autor pode e deve contar com os travessões, underlines, as explicações de quem mandou o quê e a que horas sobre determinada coisa, e ainda há os negritos e itálicos. Desde que — e que isso fique bem claro —, seja tudo com muita moderação. Até mesmo quando as letras maiúsculas se fizerem necessárias. Não precisa abusar do itálico ou do negrito, lembre-se de que o leitor ficará com glaucoma se for obrigado a forçar demais a vista em textos inteiramente em itálico. No exemplo de “A Culpa é das Estrelas” (quem tem o livro, sabe do que estou falando), são e-mails curtos, o diagramador (ou o autor, não sei quem optou pelo itálico), não escreveu uma “carta régia” com mais de mil palavras em itálico, o texto fica bem organizadinho, não cansa a vista e o espaçamento entre as linhas também é aceitável, na verdade é bem-vindo.
Uma observação pertinente: Em casos de e-mails com horário, lembre-se de que há o tempo de digitação, mais o tempo para o envio e coisa e tal, para não extrapolar na incoerência. Imagine, um e-mail de duas mil palavras e uma resposta de outras duas mil palavras, com o “apito” de envio e recebimento em intervalos de trinta segundos? Oi? Exatamente, não vai dar certo... Se optarem por registrar até mesmo o horário, as mensagens têm de fazer sentido de acordo com o tamanho e complexidade do assunto. Também fica difícil de engolir, um e-mail de trinta segundos, para um personagem responder meia dúzia de palavras, porém, palavras tensas, como um rompimento quando ainda se ama, ou a notificação do falecimento de um ente querido que era realmente querido, ou qualquer coisa do tipo, logo, não deixe de ficar atento ao tempo de envio e recebimento dessa correspondência. Verossimilhança sempre!
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