Entrevista: Clara de Assis

segunda-feira, 3 de agosto de 2015


Clara de Assis é brasileira, carioca, conquistou dois diplomas que não fazem a menor diferença para uma escritora. Começou a escrever pequenos contos aos dez anos. Leitora compulsiva, pragmática e de riso fácil. Esquece o que comeu no dia anterior, mas guarda suas sinopses na cabeça, algumas ainda em fase embrionária há anos.
Atualmente mora com a família em Niterói/Rio de Janeiro.

Liga dos Betas (LB): Autora, beta, revisora, mãe, trabalhadora em doses industriais… Muito obrigada por teres arranjado um tempinho para a entrevista, Clara. Em consistência com esta tua característica, a primeira pergunta também se desdobra em várias. Como e por que começaste a escrever? Coincidiu com o momento em que começaste a publicar as tuas histórias online?

Clara de Assis (CA): Oi, Liga... Antes de tudo eu agradeço a oportunidade de poder falar sobre meu trabalho, o tempo e o interesse de vocês também. Escrevo desde os nove anos, mas, por favor, não me faça mostrar pois tenho senso do ridículo, hahaha. Minha primeira publicação foi no Nyah, há três anos, com um nick diferente do meu nome; foi um teste, eu queria saber se o que eu escrevia prestava; era Fantasia, por motivos de: eu adoro RPG. Não deu muito certo, óbvio, hahaha No ano seguinte eu coloquei minha cara pra bater e testei alguns gêneros, e não é que teve gente que gostou?

LB: Engraçado as coisas que podem dar certo quando nos arriscamos, não é? E ok, não iremos pedir os teus escritos de quanto tinhas nove anos… Mas vamos perguntar sobre a primeira coisa que te lembras de ter escrito. Em particular como te sentiste nessa altura em relação à tua escrita, e como te sentes agora.

CA: Lembro bem que era um livro de época, naquele tempo (não importa quanto no passado, hahaha), eu lia muito José de Alencar. Só o livro Senhora li oito vezes, a primeira vez aos três anos, porque eu queria ler tudo pela frente e é claro que eu não entendi patavinas. A cada período da minha infância eu fui lendo e relendo Senhora. Aos nove anos eu me achava especialista em romance de época, hahaha, e o que eu senti foi alívio quando terminei um caderno de 160 páginas. Foi: Ufa! Que bom que eu terminei, agora só falta plantar uma árvore. Estava na cara que o filho só muito mais tarde, rs. Hoje ... primeiro de tudo, não sei nada de nada. E o que sinto quando escrevo é liberdade, é algo que eu faço por mim, que (apesar de atingir outras pessoas) tem muito a ver com poder dizer: eu consigo criar.
Escrever é algo que não faço pra agradar ao meu pai, para agradá-lo eu fiz Arquitetura e Urbanismo. Tem a ver com prazer, com poder criar, dar vida, voz e forma para um personagem, posso matá-lo, posso casá-lo, posso fazê-lo feio ou lindo demais, ele pode ter manias e ele sempre vai ser meu. Podem até negar, mas quem escreve adora brincar de Deus.

LB: Julgo que os leitores concordarão que definitivamente consegues criar. Mas como foi o processo de pegar nessa criação, publicada na internet, e torná-la num livro? Refiro-me em específico a Aluga-se um Noivo, a tua estreia no mercado editorial.

CA: Vamos esclarecer isso de vez, Elyon. O livro estava pronto; Carol, minha grande amiga, estava trabalhando em SP na época das postagens, ela lia o Nyah e eu postava pra ela, depois de adaptar um texto que já existia, já estava registrado, enfim. Então foi o inverso, não foi a fic que virou livro, foi o livro que virou fic, tanto que há muitos capítulos que eu não ousei postar. A estreia foi completamente atropelada por culpa de plágio e reprodução indevida. Eu sou perfeccionista, não falo isso com prazer, é um defeito, então, eu queria "sentir o terreno", saber se o livro poderia ser publicado, se haveria retorno. Bom, o livro foi aceito, foi plagiado algumas vezes, reproduzido sem minha autorização muitas outras, e até mesmo um mito eu virei (será que Clara de Assis existe?) Soube dessas histórias conversando com algumas parceiras de eventos literários... Enfim, daí no meio do caminho contratei uma pessoa pra betar que me entregou o livro como pronto, mas não estava. Enfim, ele foi muito zoado... Coitado do Théo, hahaha. Vamos ver se nas continuações eu consigo lançar sem atropelos, como foi o caso do Dragão de Jade, esse saiu direitinho, quotes, book trailer, capa revelada, livro. Foi maravilhoso.

LB: Um plot twist! Mexendo ainda um pouco no desagradável, visto as tuas (infelizmente) várias experiências com plágio, qual é na tua opinião a melhor maneira de se lidar com isso?

CA: Ai, eu vou tentar ser sucinta, moças, porque eu tenho uma opinião extensa sobre o assunto....
Respeito. Tudo começa com Respeito. Muitas pessoas não fazem ideia de que prejudicam o autor de maneira colossal, e os que têm essa consciência pedem o arquivo pirata porque querem ter vantagem. Eu não vejo o sujeito que pede o arquivo menos culpado do que quem quebrou o DMR e quem passou adiante. Só há prática ilícita se tiver quem corrobore, quem bata palma. É triste pra caramba, mas a maioria das pessoas que prejudicam o autor não o conhece, não o respeita como indivíduo.
Uma pergunta para se pensar: Será que eu tenho coragem de roubar meu amigo, estar com ele, perceber seu sacrifício, o tanto que abre mão de muitas coisas pra realizar aquele feito e então eu vou roubá-lo?
A maioria que plagia, que pirateia, não respeita o outro, o trabalho, a vida, não tem competência para se colocar no lugar do outro.

LB: Olhando para a introdução desta entrevista, dá logo para perceber que és uma pessoa atarefada. Como concilias a faceta de escritora com as restantes partes da tua vida?

CA: Essa sim é a pergunta mais difícil de todas, hahaha E eu não sei te responder, as coisas vão acontecendo! Eu estou aqui com vocês, mas já dei comidinha para as crianças, já fui andar pela casa pra ver o que tem de ser feito amanhã, enquanto vocês preparavam a pergunta eu fui lá na fábrica em que o Anghelo prepara a cerveja e já o ajudei a fechar um fermentador, hahahaha Voltei, passei pela sala, vi os meninos jogando Xbox, já respondi três leitoras e agora estou digitando isso enquanto falo com a minha mãe no telefone. Eu não sei... As coisas só.... acontecem!

LB: Fiquei cansada só de ler. Então, dentro desse “acontecer”, como é o teu processo criativo? Inventas na hora ou preferes estruturar e planear tudo antes de começar?

CA: Eu estruturo tudo antes, Elyon. Evelyn [beta/revisora] pode confirmar, ela deu uma lidinha numa das minhas estruturas, rsrsrs.

LB: Já deu para perceber por alguns detalhes numa resposta aqui e ali que dás o teu trabalho a ler a algumas pessoas antes de o tornar público. Como funciona essa relação autora/beta? Ou estão mais para revisoras?

CA: Eu gosto de saber se estou indo por um caminho certo, estou longe de ser a dona da verdade e não tenho vergonha de pedir ajuda, eu já tive uma história jogada no lixo inteirinha por uma das minhas revisoras, hahaha... Era pra ser uma piada, mas ela ficou passada com o nível de loucura, então vai virar fic só pra gente se divertir, hahaha. Minha relação com a Evelyn é boa, hahaha, eu falo “pode mexer, mas não mate ninguém por favor”, hahahaha. Minha relação com a Vânia Nunes é conturbada, nos amamos e brigamos muito, porque eu falo... coisas, ela puxa minha orelha e tende a me esganar, hahaha. Eu gosto de saber se o povo vai querer ler, acho o trabalho do beta e do revisor fundamental! Só Deus sabe o quanto eu sofri quando vi minha história com mil erros invadindo a casa das pessoas... Quem acha que não precisa de beta precisa rever seus conceitos.

LB: Falando em livros a invadirem a casa das pessoas (esperemos que sem a dor de mil erros), que estratégias de divulgação usaste, e quais as que tiveram mais sucesso?

CA: Nenhuma estratégia maluca. O boca-a-boca ainda é a melhor propaganda. Tenho parcerias, sempre posto degustação antes de "cobrar", tem a página do face e minha página pessoal... Nada demais. Por isso que eu só posso agradecer aos leitores que indicam, sempre falo que tenho os leitores mais legais do mundo, são educados, são carinhosos, se preocupam comigo (além dos livros). Se meus livros ficam em primeiro nas vendas, pode apostar que são eles que fazem muito por mim. Só posso agradecer.

LB: Os leitores-sonho de qualquer autor, então, ahah. E a tua faceta de leitora? Quais são as tuas histórias favoritas (além de Senhora) e quais sentes que mais te influenciaram?

CA: Sou chata pra livro nacional. Tem muita gente que se acha autor, mas não é; tipo, colega, pare, você está fazendo isso errado, hahaha. Pesquisa é importante, verossimilhança é importante, observar os furos (sinopse de: mocinha forte, mas que passa dez capítulos chorando, oras, tem algo errado aí). Inconsistência de enredo... Gente, um beta serve pra isso! Pra caçar e exterminar esses probleminhas! Por isso eu sou bem chata pra livro nacional. Amo de paixão Lucy Vargas, a pesquisa que ela faz é primorosa! O cuidado com o texto, o amor que ela coloca nas páginas, ela respeita o trabalho dela. Quem tem lugar garantido na minha estante: RLaila, Evy Maciel, Evelyn Santana, Lucy Vargas, Barbara Biazioli, Anna Julia Ventura... Tem mais algumas, essas são as que eu mais tenho contato, então eu lembro logo, rs. Eu gosto de romance histórico: Lisa Kleypas, Mary Balogh, Julia Quinn. Gosto de distopia: GOT, Jogos Vorazes, Divergente... Meu estilo como leitora é bem diversificado. De Lauren Kate (Fallen) até Shakespeare, depende do momento. Quem me inspira... Depende do que eu estiver escrevendo.

LB: Por fim, a última questão: algum conselho para aqueles ficwritters que desejam lançar-se no mercado editorial?

CA: Uma boa ideia não serve de nada se não for bem executada. Estudar é um conselho que eu me dou diariamente, ter carinho com seu próprio trabalho e respeitar o leitor. Todo autor acha que sua história é o próximo boom de lançamento; gente, um pouquinho de humildade faz um bem enorme! Mas quer saber...? Quem tem amor pelo que faz não precisa de conselho, porque sempre vai procurar o melhor para sua história, vai se preocupar em ter um beta/revisor, vai se colocar no lugar do leitor.... É só ter amor, colocar respeito e paixão que tudo vai dar certo.

LB: Muito obrigada pelo tempo e palavras despendidos! Tivemos respostas interessantíssimas, com certeza serão lidas com avidez.

A resenha do livro Aluga-se um Noivo será publicada aqui no blog na próxima Quinta-feira.

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