Apresentando as tuas personagens

segunda-feira, 5 de maio de 2014

Por: Deathless Nokas

Mas o que é isso? Mais um post sobre persongens?!

Bem, caro leitor, as personagens são alguns dos elementos mais importantes da tua história, logo a seguir ao enredo. É através delas que tu contas a tua história e é com elas que o teu leitor se identificará e que quererá acompanhar ao longo de todos os teus capítulos, esperando que chegue o final e que tudo lhes corra bem (ou mal, se elas forem os vilões).

Portanto, apesar de o enredo ser a coisa mais importante da tua história, apesar de o enredo ser quase A TUA HISTÓRIA MESMO, as personagens são aquilo que vai fazer com que os teus leitores queiram saber o que acontece a seguir. Porque os leitores vão querer saber o que vai acontecer... às tuas personagens. São elas que agarram os teus leitores às tuas palavras. Portanto, “mais um post sobre personagens”, sim, mas um tão necessário quanto todos os outros.

Eu vou focar-me mais em ajudar-te a criar personagens interessantes e credíveis, que façam com que os teus leitores sintam que as conhecem verdadeiramente e se preocupem em ler para descobrirem o que elas vão fazer em seguida.

E agora comecemos, então!

O que faz de uma personagem “interessante”?

Realmente, o que faz com que uma personagem seja interessante ou aborrecida? Uma cor de cabelo bizarra? Muitos piercings? Cicatrizes? 

Claro que um visual diferente pode ser interessante, mas torna-se ainda mais se houver uma explicação para uma aparência única. Se calhar as cicatrizes são de anos de lutas num país distante. Cada piercing pode ser uma prova de uma meta pessoal alcançada…

Mas quem nunca leu um livro ou viu um filme onde vimos uma personagem completamente comum à primeira vista ser muito especial e única? E que conclusão é que podemos retirar daí? É que a aparência não é tudo numa personagem e não é por tu dizeres que a tua tem cabelo verde que já concluíste o trabalho de a apresentares aos teus leitores.

Na verdade, a aparência é a parte menos importante no que toca à introdução de personagens.

Não é por eu te dizer que tenho um metro e oitenta que tu vais saber se eu dou dinheiro aos pedintes quando ando na rua ou não. Mas se eu te dissesse que dou dinheiro a todas as pessoas que me pedem na rua, ou no emprego, ou aos meus amigos quando eles precisam, aí tu já ficarias a saber duas coisas, mais ou menos: que eu sou generosa e, talvez, que eu tenho até bastante dinheiro para poder andar a distribuí-lo por aí.

Percebeste a diferença entre as duas situações? Na primeira eu fiz uma descrição física minha e aí tu tiveste uma imagem visual da minha pessoa (ou não. Porque só te dei um dado a meu respeito). Nada mais. Na segunda ocasião, eu descrevi uma ação (e só uma, tal como há bocado te dei também só uma descrição). Eu disse que dava dinheiro às pessoas quando elas mo pediam, e tu, quase de certeza, que viste uma pessoa a dar dinheiro aos outros nesse momento. Se calhar viste-a dizer uma ou duas palavras simpáticas também, apesar de não a teres ouvido a dizer nada. Se calhar viste-a sorrir enquanto abria a carteira e abanava a cabeça negativamente e recusava os “obrigados!” entusiasmados das outras pessoas. Ou talvez não tenhas visto nada disto e tenhas visto uma imagem diferente. Mas aposto que viste alguma coisa. E a verdade é que eu nem tenho um metro e oitenta e nem tenho assim tanto dinheiro para dar a toda a gente a toda a hora, apesar de ajudar os outros quando posso.

No entanto, ficaste a achar que me conhecias um bocadinho por eu te dizer que dava dinheiro aos outros. E por quê? Porque a melhor forma de apresentares as tuas personagens aos teus leitores é mostrando-as em ação. Em vez de dizeres que a tua personagem principal é muito generosa, fá-la dar dinheiro a um pedinte e a um amigo em apuros, apesar de ela mesma não ter muito dinheiro, para começar. Em vez de dizeres que ela tem um metro e oitenta, fá-la bater com a cabeça num teto baixo de uma loja. Uma loja de animais onde ela vá doar comida todos os sábados – e tens aí mais uma ocasião em que mostras que ela é muito dedicada a ajudar os outros.

Percebes o que estou a tentar explicar?

Quando fores apresentar as tuas personagens, não digas que elas são “assim, assado e cozido”. Não apresentes uma lista de adjetivos aos teus leitores. Limita-te a contar a tua história e a inserir aqui e ali episódios pequeninos, minúsculas cenas com duas linhas no máximo, em que mostres como as tuas personagens são.

Se és uma pessoa curiosa e que investiga a respeito de como melhorar enquanto escritor, já deves ter ouvido muitas vezes o velho conselho “Show! Don’t tell!”. Isso quer dizer “Mostra! Não contes!” e é, talvez, das melhores dicas que podes incorporar na tua escrita.

Não “contes” que o teu protagonista é temperamental. Mostra-o a ficar irritado com um caixote do lixo fora do caminho e fá-lo dar-lhe um pontapé. Fá-lo andar de costas curvadas e de mãos nos bolsos, irritado, de sobrancelhas franzidas na maior parte do tempo. E não digas que ele tem momentos em que está menos zangado. Fá-lo, um dia, estar numa aula a olhar pela janela, observando um casal de gatos brincalhões, e um colega ficar chocado ao reparar que ele está a sorrir.

Então, uma personagem interessante é uma personagem que age?

No fundo, sim, caro leitor. Uma personagem interessante é uma personagem que se apresenta sozinha e através dos seus atos. É uma personagem que está sempre a fazer coisas, em vez de ficar quieta durante dez minutos, enquanto o narrador (que pode mesmo ser ele próprio) se ocupa a descrevê-lo com adjetivos e com roupas.

E a melhor forma de a apresentares é usares o teu enredo. Mistura as duas coisas. Pela forma como a tua personagem lida com os problemas ou com as coisas boas que lhe vão acontecendo, o teu leitor também a vai conhecendo melhor: se ela é uma desistente ou uma lutadora, se ela celebra comendo ou bebendo, se ela adora cozinhar para os amigos em ocasiões especiais ou todos os dias, se ela adora estar com os amigos ou se passa a maior parte da história sozinha e tem poucas pessoas com que contar…

Usa a tua história para pores a tua personagem a mexer-se, a tomar decisões e a agir. E de certeza que os teus leitores vão achar que ela é super interessante e vão morrer de curiosidade até que escrevas o próximo capítulo!

6 comentários:

  1. Nokas você é sensacional! Adorei o artigo!! Maravilhoso. Explicitou perfeitamente.

    ResponderExcluir
  2. O texto ficou super bacana. E, como sempre, ajudou bastante.
    É por essas e outras que continuo visitando o blog da Liga xD
    Parabéns <3

    ResponderExcluir
  3. Realmente maravilhoso o que você disse, eu concordo plenamente, estou a escrever a minha primeira história que tem futuro e a primeira que vou ter coragem de postar no Nyah, estou um pouco nervosa sobre o casal que quero escrever por terem um certo tabu, mas pelo que estou lendo aqui está me fazendo ficar muito feliz, muito obrigado pelo que você escreveu, realmente me ajudou muito.

    ResponderExcluir

O blog da Liga é um espaço para ajudar os escritores iniciantes a colocarem suas ideias no papel da melhor maneira possível.



As imagens que servem de ilustração para o posts do blog foram encontradas mediante pesquisa no google.com e não visamos nenhum fim comercial com suas respectivas veiculações. Ainda assim, se estamos usando indevidamente uma imagem sua, envie-nos um e-mail que a retiraremos no mesmo instante. Feito com ♥ Lariz Santana