Poesia

segunda-feira, 3 de março de 2014

Por Jean Claude (Liga dos Betas)

O que é poesia? Como ela pode constituir meus versos ou minha prosa?
Diferente do que costumamos fazer numa narração comum, a poesia exige um pouco mais de cuidado. Ela exige que saibamos escolher as palavras, seja para representar uma sonoridade, ou uma mensagem específica.

Algumas Perguntas

I – Poesia x Poema. Qual a diferença?
Muitos costumam dizer que a poesia é o texto em versos e também que é o sinônimo de poema, porém não funciona assim. O poema é o texto em versos. A poesia é o conteúdo literário que encontramos no texto, aquilo que expressa a arte, que não é limitado apenas aos versos, podendo ocorrer também na prosa, que denominamos de prosa poética.

II – Se eu quiser expressar poesia, eu preciso, obrigatoriamente, usar rimas?
É comum vermos alguns textos, principalmente em versos, que possuem palavras rimadas. No entanto, isso não é regra, não é algo obrigatório. Não é à toa que existem os “versos brancos”, nos quais rimas são ausentes. O estilo de escrita não rimado veio nas origens do Modernismo (nossa atual época literária) e, hoje, a rima não é tão importante quanto era em outras épocas, como a do Parnasianismo, por exemplo.

III – O que eu preciso fazer para trazer a poesia ao meu texto? Quais recursos eu posso utilizar?
Basta ter uma expressão artística. Diferente da narração comum, em que mostramos a vida de personagens em um meio, na poesia, há expressão de sentimentos e alguns temas mais abstratos. Se você deseja trazer uma sonoridade, a fim de ligar palavras através de uma leitura com um ritmo, você pode usar as rimas. No entanto, a melhor forma de se enriquecer um texto desse porte é com o uso das já conhecidas “Figuras de Linguagem”, principalmente as metáforas.

Obs: O blog da Liga já possui uma postagem sobre figuras de linguagem, e você pode acessá-la clicando aqui.

IV – O que é licença poética? Quando eu posso usá-la?
A poesia não é tão limitada a regras quanto um romance, por exemplo. A licença poética é um recurso com intuito de se alcançar uma mensagem, porém sendo necessário “quebrar” as regras. Por exemplo, alguns textos possuem palavras escritas erradas (propositalmente) para poder rimar com uma palavra seguinte. Outros textos possuem o recurso do “neologismo”, que consiste em criar uma nova palavra para se inventar uma mensagem nova. A licença também pode ser usada para representar palavras de baixo calão ou gírias, mesmo se o resto do texto estiver num nível superior de linguagem.

Dicas de Poesia

A) Rimas (somente para versos)
Ajudam a representar a sonoridade. Existem seis tipos ao todo, sendo três para o tipo de som e mais três para a organização. Em relação ao som, temos:

Rimas pobres – Antes de tudo, a nomenclatura não significa dizer que são rimas ruins, isto é, que não são aconselhadas de se usar. Elas recebem esse nome pelo fato das palavras unidas pertencerem à mesma classe gramatical. Classifica-se como “pobre” por ser uma rima fácil de fazer.
Exemplos: “Cantar/Observar” (Ambas são verbos); “Pranto/Espanto” (Ambas são substantivos.)

Rimas ricas – Esse tipo de rima recebe esse nome por ter uma dificuldade mais elevada, em comparação às rimas pobres. Para que se ocorra uma combinação desse tipo, os dois vocábulos precisam ser de classes gramaticais distintas.
Exemplos: “Rua/Sua” (Substantivo e pronome, respectivamente); “Construa/Nua” (Verbo e adjetivo, respectivamente).

Rimas raras – Seguindo a mesma linha, são as rimas mais difíceis de serem feitas, também podem ser chamadas de preciosas. Nesse caso, costumamos encontrar terminações incomuns e palavras que possuem apenas uma ou, no máximo, duas rimas, por isso são chamadas de raras.
Exemplos: “Distingo-a/Língua” (Veja que, aparentemente, parece que não há ligação nenhuma, mas, sonoramente, constitui-se uma rima rara); “Vê-las/Estrelas” (Mesma coisa que o exemplo anterior).

Em relação à organização, temos:
Rimas emparelhadas – São quando as rimas estão juntas uma da outra, apresentando a ordem: A, A, B, B. (A, para a primeira rima; B, para a segunda).
Rimas alternadas – Como o nome sugere, é quando as rimas se alternam, formando a ordem: A, B, A, B.
Rimas Opostas – Também chamadas de interpoladas, acontecem quando uma das rimas ocupa os extremos e, no centro, encontre-se rimas juntas. A ordem para isso é: A, B, B, A.

B) Figuras de Linguagem (para ambos os tipos)
Ajudam no enriquecimento e na mensagem do texto. Citarei os mais usados, os que possuem mais efeito num texto desse tipo:

Comparação e Metáfora – Apesar de serem figuras diferentes, possuem o mesmo objetivo na poesia. A única diferença entre as duas é que a comparação usa termos comparativos e a metáfora, não. Comparar é muito importante para expressar algo. Às vezes o leitor pode não compreender a mensagem que você quer passar, mas essas comparações, além de darem uma beleza ao texto, podem esclarecê-lo e abrir sua imaginação.
Exemplos: “Seus olhos são esmeraldas.” (Metáfora); “Seus olhos são como esmeraldas.” (Comparação).

Metonímia – Consiste em substituir um termo por outro, ocorrendo uma ligação entre os sentidos. Na poesia, essa forma pode ajudar a constituir subjetividade, que também é um ótimo recurso para tornar seu texto misterioso e rico, fazendo, assim, um jogo de palavras.
Exemplos: “Assim, bebi a morte.” (Usado para definir que bebeu veneno, trocando o efeito pela causa); “Os pensamentos de um mero mortal...” (Usado para definir o homem como mero mortal, trocando o gênero pela espécie).

Antítese – Usado para estabelecer contradições, porém com uma maior ênfase nos termos opostos. É essencial para causar impacto num texto, além de trabalhar ainda mais o jogo das palavras, até se chegar ao objetivo da mensagem.
Exemplos: “Sonho com o céu, porém me prendo à terra.” (A oposição é óbvia, ele sonha em estar nos ares, mas ainda se prende).

Obs: Não confunda “Antítese” com “Paradoxo”. Na antítese, há duas teses contrárias, enquanto que no paradoxo a oposição é num mesmo referente.
Ex: “Troco o amargo pelo mel.” (Antítese, o “amargo” é uma tese e o “mel” é outra, não são o mesmo objeto).
“Provei daquele mel amargo.” (Paradoxo, pois se refere ao mel que está amargo, o que é uma oposição, porque mel não é amargo).

Ressaltando que essas são as mais importantes, porém não são as figuras exclusivas para se usar num texto poético, você pode usar quaisquer figuras.

Dicas para uma boa prosa poética

I – Apesar de ser poesia, é necessário lembrar que ainda se trata de uma prosa, então não abuse da sonoridade.
II – Troque a narração pela comparação (e pela metáfora também). Em vez de narrar uma cena normal, tente expressar aquilo de um jeito novo, e a comparação é o melhor caminho para isso. No entanto, cuidado para não fazer comparações absurdas ou querer dramatizar muito a situação, pois a leitura pode ficar pesada.
III – Procure assuntos diferentes, porém que demonstrem todos os sentimentos do eu-lírico. Lembre-se de que “amor” e “tristeza” não são os únicos sentimentos do mundo, seres humanos também sentem “felicidade”, “incerteza”, “insegurança”, até mesmo “fome”.
IV – Cuidado com o excesso de emoções. Não faça o seu eu-lírico sofrer de tudo, pois aí a história perderá o controle. Além disso, é bem capaz de ele ficar maluco com todos esses sentimentos, então vá com calma, dois sentimentos, no máximo, já é o suficiente.
V – Evite repetições. Se o seu eu-lírico já disse algo em uma estrofe ou parágrafo, não precisa repeti-lo infinitas vezes nos outros para desejar criar mais impacto. Faça isso, no máximo, duas vezes. Se você achar que o seu texto realmente precisa dessas repetições, é uma boa oportunidade para a licença poética.
VI – Cuidado com algumas pontuações, principalmente as reticências. Encher seu texto de reticências não o deixará mais belo ou mais dramático, mas o deixará travado e, numa poesia, as palavras precisam fluir.
VII – Sinta-se livre. Expresse tudo o que você achar necessário e faça o texto como se fosse parte do seu mundo, das suas regras, porém, como tudo na vida, não vá exagerar, apenas não se sinta pressionado(a) com o seu próprio texto.

Informações Complementares

Versos Brancos – São poemas que não possuem rima. Podem até possuir uma ou outra sem querer, mas não possui intenção de rimar.
Métrica – Recurso antigo (muito pouco utilizado atualmente) que consiste em separar os versos em sílabas poéticas. As sílabas poéticas não são contadas da mesma forma que as sílabas normais. Na contagem métrica, não se contam sílabas que estão após a sílaba tônica da última palavra do verso; ditongos possuem valor de apenas uma sílaba poética e duas ou mais vogais (átonas ou tônicas) podem se unir numa mesma sílaba, desde que sejam do mesmo tipo (na frase “paz e esperança”, “e es” conta como apenas uma sílaba). Veja a imagem, que mostra a separação de sílabas métricas:
  
A métrica perfeita consiste em uma estrofe ter todos os versos com a mesma contagem métrica, como é mostrado na imagem a seguir:

No entanto, a métrica não é uma regra, visto que existem os “versos livres”, que são poemas que não seguem essa linhagem métrica.

Rima consoante – É quando a rima se estende da última sílaba tônica, até o final.
Exemplos: “Cardíaco/Zodíaco”; “Relutância/Infância”.
Rima assoante – É quando a rima apresenta igualdade sonora apenas entre as vogais.
Exemplos: “Saltava/Mata”
Estrofe – É um conjunto de versos, é como o parágrafo dos versos. Existem vários tipos conforme o tamanho, como terceto (para estrofes de três versos), quartetos ou quadras (para quatro versos) e assim em diante.

Alguns tipos de poesia:

Ode – É uma composição feita para ser cantada ou declarada. É muito usada para prestar homenagens.
Elegia – Composição de lamento triste e/ou melancólico, pesado e depressivo.
Écloga – Poesia composta para funcionar como uma espécie de diálogo, muito utilizado em textos pastorais.
Soneto – Poesia de composição fixa, portanto, obrigatoriamente, precisa ter dois quartetos e dois tercetos, totalizando catorze versos.
Madrigal – Composição dramática que procura expressar sentimentos de lisonjeio, de forma terna e amorosa. Também pode ser cantado.

Conclusão

Não há mistério quando o assunto é poesia. A receita é simples: sentimento, comparação, explicação, um pouco de subjetividade e ritmo. Com esses elementos, seu texto ficará rico o suficiente para alcançar o seu objetivo e transmitir sua mensagem. A dica mais importante é: esteja satisfeito(a) com a sua própria obra, pois, sem isso, a poesia não surtirá efeito.



Links Consultados

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Poesia em geral:
Tipos de rima:
[Liga dos Betas] Figuras de Linguagem:
Métrica:



2 comentários:

  1. Adorei! Não sou muito boa em poesia (okay, admito que não pratico muito, mas enfim), apesar de ser boa em expressar os sentimentos numa prosa. Mas essa postagem me ajudou! Talvez eu tente escrever algo mais tarde. Liga dos Betas salvando esperanças mais uma vez!

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