Ame seu antagonista

segunda-feira, 24 de março de 2014


Por Lángoló Sisak

        Aquele que luta contra nós fortalece nossos nervos e aprimora nossas qualidades. Nosso antagonista trabalha por nós.” – Edmund Burke.
       
         De lobos a feiticeiros, de bruxas a rainhas, de monstros a médicos. Os antagonistas são um tipo extremamente flexível de personagem, além de fundamentais na grande maioria das estórias e histórias por se oporem aos protagonistas, personagens de maior destaque e que são o nó vital da trama. O antagonista é, em poucas palavras, um obstáculo para o seu protagonista, o que acaba levando as pessoas a acharem que o protagonista é o “mocinho”, e o antagonista, o “bandido”. O que nem sempre é verdade.

       Protagonistas e antagonistas têm uma relação de oposição e são muito mais do que um dilema do “Bem vs Mal”. Podemos ter dois personagens cujos alinhamentos são os mesmos, mas com diferentes aproximações de um objetivo diferentes. Exemplo: Freddy Krueger como protagonista e Jason como seu antagonista. Ou vice-versa. Assim como há exemplos nos quais o antagonista pode ser muito bem um rei ou um príncipe, como no filme “Shrek”. E eles não se restringem a apenas outros personagens; podem ser situações, emoções, sentimentos, objetos, etc.
       
         “Mas, Lán, se os antagonistas só servem para atrapalhar, posso excluí-los do enredo?”

        É… Não, meu caro jovem aprendiz. Mas lembre-se que o antagonista é aquele que indiretamente estimula o seu antônimo a continuar a sua busca pelo objetivo. Isso e muitas outras funções, como manter o leitor interessado no conflito do seu enredo. Imagine uma estória sem obstáculos para o seu personagem, Mario sem Bowser, Star Wars sem Darth Vader, Harry Potter sem Voldemort.

        Há várias maneiras de como classificar os antagonistas, mas a principal delas é o nível de relevância desse personagem para a estória: Antagonistas Principais e Secundários.

         “Então minha história pode ter mais de um antagonista?”

         Sim, filhote. Alguns escritores até vão pela máxima de “quanto mais, melhor”. Pense na sua estória como um jogo. Os antagonistas secundários são como os minichefes das fases. Os antagonistas principais são os chefes daquela última fase impossível.

        Uma das perguntas que as pessoas mais me fazem quando começam a planejar verdadeiros épicos narrativos é “Como fazer um bom antagonista?”. Deixando de lado os de contos de fadas, – que em sua grande maioria, acabam sendo personagens simples e planos – os bons antagonistas são aqueles que trazem à tona quem aquele protagonista realmente é. O antagonista provoca os medos, os sentimentos, os pensamentos, o passado da personagem ao qual ele se opõe, dando a ele a capacidade de reflexão. É o momento do “Isso aqui não está certo.”; porque é muito fácil para o seu protagonista ser perfeito, magnífico, uma verdadeira obra-prima se não há quem aponte para ele e diga “Você não passa de um egocêntrico e um hipócrita.”.

       Nós, humanos, somos assim. Quando nos encontramos num momento de tensão, o furor, a pressão, o estresse emergem lá do fundo do seu ser, não importando o quão paciente você seja, e você explode. Essa é uma das mecânicas do seu antagonista: Mostrar que o seu protagonista é humano. Que ele tem falhas, e, por isso, é real.

       E se tem uma coisa que faz a sua história ser mais profunda emocionalmente, é o fato de os personagens serem humanos e verossímeis. As pessoas se conectam com eles e se inserem no contexto do enredo, tornando a história de fato significativa ao leitor. Se há essa conexão entre leitor e protagonista, haverá a conexão antagonista/leitor. Seu antagonista provoca reflexões no seu leitor, como faria no próprio protagonista.
       
        “Nossa, Lán; que personagem importante o antagonista é!”
    
Sim, sim! Agradeça-o quando tiver a oportunidade.
        E você? Já abraçou seu antagonista hoje?

        "O verdadeiro inimigo pode sempre ser encontrado e conquistado, ou vencido. O verdadeiro antagonismo é baseado no amor, um amor que ainda não se reconheceu." – Henry Miller.


      Bibliografia:
– Antagonist (Acesso em 21/02/2014)
– Matha Alderson. Step 13: How Do I Plot the Antagonists in a Novel, Memoir, Screenplay? (Acesso em 25/02/2014)
– Christopher Cascio. Protagonist vs. Antagonist for Middle School (Acesso em 01/03/2014)
– Jim Hull. Protagonist and Antagonist: Beyond Hero and Villain (Acesso em 04/03/2014)


11 comentários:

  1. Meus antagonistas sempre foram como os dos contos de fadas: personagens rasos que servem apenas para atrapalhar a vida dos protagonistas, nada muito elaborado. Mas talvez isso mude um dia.

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    1. Eu gosto mais dos antagonistas bem elaborados... Acho que, no fim, eles são quase personagens principais...

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    2. Os meus também sempre foram extremamente rasos. Até que eu comecei a passar mais tempo elaborando suas características, seus backgrounds. Enfim, minha dica é colocá-lo no mesmo nível de tratamento dado ao protagonista. Indague-se a respeito das preferências mais pessoais dele, trate-o como um personagem, e não apenas como um obstáculo que os personagens devem ultrapassar!

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  2. Na minha primeira história eu gostei tanto do antagonista enquanto estava escrevendo que reformulei toda a história e ele virou o protagonista :p é o mesmo personagem, na aparência e no psicológico :v

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    1. Heh, é o caso de um dos meus personagens. A dica que eu dou é sempre tentar manter o foco no seu protagonista. Aliás, se o seu enredo for muito comprido ao ponto de poder ser dividido em capítulos – ou até em sagas – sinta-se livre para jogá-los para o time do seu protagonista! Mas nunca perca o foco do verdadeiro protagonista! Abraços!

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  3. Meus antagonistas sempre aparentam ser aquilo que os leitores querem ou já suspeitam e no final são completamente diferentes, já fiz leitor querer arrancar meus cabelos no bom sentido por causa de alguns deles xD. Tomo muito cuidado na criação de vilões, antagonistas, etc. Pq hj em dia o leitor é muito Perspicaz e sempre tem alguma teoria repetitiva sobre as reais intenções dos vilões porque é muito comum que suas estórias se repitam em outra Fic que já leram, então mesclo um pouco do passado do vilão com o do protagonista e tento criar um simbolismo ou link por trás de suas ações para criar um final ambíguo que só possui desfecho certo nos 45 mins do segundo tempo, é muito trabalhoso, mas o resultado é sempre bom :D.

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  4. Victor Vonncamp, eu já te abracei, beijei, ou/e amei você hoje?!
    Acredito que eles devem possuir uma história interessante, além de serem mais "humanos"; já vi algumas fanfictions (e até mesmo livros!) com antagonistas irracionais de mais, defeituosos de mais e até mesmo perfeitos de mais... Céus, esse tipo de personagem é humano também (ou não, depende do universo onde você escreve), é um ser pensante, afinal, o que seria o Batman sem o Coringa? Ou Luke Skywalker sem — o Universo que me perdoe — Darth Vader? O que quero dizer é que antagonistas são como o álcool: todos dependem dele... De uma forma ou de outra.
    Eu sou devota aos "bons antagonistas", jamais mataria Victor — até porque vou mais com a cara dele do que com a da minha protagonista —, não me interprete mal; eu apenas amo meu antagonista.
    Foi um post ótimo, por sinal.

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    1. Eu canso-me de ver antagonistas mal trabalhados. Se eles chegara ao lugar que chegaram, e se têm o papel na história que têm, então merecem quase tanta atenção como o portagonista.

      Ainda bem que gostaste do post! <3

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  5. Estou tentando mudar essa forma de pensar, ou melhor, inverter os papeis. Porque estou escrevendo uma vilã, que é protagonista e ainda não sei exatamente qual é o antagonista dela, porque é algo complexo demais, o texto me abriu os olhos para como vou colocar esse empecilho na vida dela e como vou usá-la bem. E, sobre os meus antagonistas, eu gosto deles sempre. É bom instigar e fazer com que seu protagonista perca a linha, ainda mais quando existe um antagonista torcendo para que ele se ferre feio.

    Beijoos!

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