Oito erros técnicos mais comuns em fanfics [1/2]

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Por: Gabriela Petusk (Team da Liga dos betas)




Ah, eu não tomo jeito, mesmo. Escrevendo no meio da aula de novo? Outra lista, ainda por cima? É pelo bem da literatura mundial. Isso é o que sempre me consolou.

O post de agora é uma evolução (não uma digievolução, porque Pokémon é mais legal que Digimon *polêmica*) do antigo e quase aclamado 18 erros mais comuns em fanfics. Será em dobro, ou seja, a parte dois sai em breve com outros quatro erros. Mais do que só de aparência (como erros ortográficos, internetês e sinalizações esquisitas para falas, como underlines) os tópicos aqui influenciam na qualidade “abstrata” da história, isto é, o que o leitor vai sentir ao ler e como vai interpretar o que você escreveu. Mostrem seus bilhetes na entrada e tenham uma boa sessão.


  

1) Frases com pontuação inadequada

O sentimento transmitido por uma história depende também do ritmo de leitura, não só do que é contado nela. Observe os dois exemplos a seguir.

A: “Abriu a porta. Pendurou o guarda-chuva. Tirou os sapatos encharcados e largou o corpo no sofá. Pensou na louça por lavar. Ignorou-a. Acabou dormindo enquanto escutava o temporal cair.”

B: “Abriu a porta, pendurou o guarda-chuva, tirou os sapatos encharcados e largou o corpo no sofá. Pensou na louça por lavar, ignorou-a; acabou dormindo enquanto escutava o temporal cair.”

Qual dos dois trechos deu a impressão de ser mais lento? Certamente, o A. Note que a única coisa alterada foi a pontuação; as palavras são as mesmas, sem tirar nem por. O uso das vírgulas deixa as ações do trecho B mais contínuas. Eu, como leitora, interpretaria o seguinte: no trecho A, a personagem está sentindo frio, dor, talvez uma tristeza muito impactante, e uma dessas três coisas (ou duas, ou as três) a faz ser mais lenta ao agir. Na versão B, ela também está incomodada com a chuva, mas pela maior rapidez da narração, ela ainda tem forças para agir sem muito impedimento, está com pressa ou raiva. A lição que fica? Cuidado com suas vírgulas e pontos, porque o sentido de uma frase pode se tornar outro com eles.



2) Uso incorreto de conjunções, preposições e regência

Já devo ter assumido aqui no blog que não sou nenhuma especialista em gramática. Mesmo assim, este ponto em especial merece minha atenção e a de vocês também. Segundo minha professora de português do ensino médio, quem lê bastante logo aprende o uso instintivo, quase automático de coisas do tipo. Uma explicação rápida sobre como funciona isso aqui; vocês podem aprender muito mais nas aulas de português do Nyah.

Por exemplo, quando você assiste alguém, você dá assistência, ajuda (assistir, assistência, notem o radical). Quando você assiste a alguém, você fica só olhando. Portanto, no português formal, você assiste ao filme, não o filme, afinal, você não ajuda o filme, apenas vê e presta atenção. Isso é regência verbal: a mudança do sentido quando você coloca ou deixa de usar uma preposição antes dele.

Errar uma preposição não pode só atrapalhar com a regência verbal. Por um acaso do destino, decorei ainda no ensino fundamental a lista com todas elas e repito de vez em quando ao ter uma dúvida. Aqui está ela em ordem alfabética.


a
ante
após
até
com
contra
de
desde
em
entre
para
perante
por
sem
sob
sobre
trás




         


Sabe quando você pede ao seu amigo “Joga a bola para mim” e ela acaba acertando seu rosto? Cabe aí a piada “Pedi para jogar para mim, não em mim!”, que é um exemplo da diferença de sentido entre elas. Experimente trocar “sem” por “com” para ver a discórdia.

A respeito das conjunções: elas servem para ligar uma oração a outra. O significado delas pode mudar bastante quando você as troca. Observe a seguir.

“Não estudei, mas tirei notas ótimas.”

Vamos analisar por partes. A primeira oração diz que a pessoa falante não estudou. De uma pessoa que não estudou, você espera uma nota baixa, correto? Logo em seguida, ela diz que foi bem na(s) prova(s). É uma contradição, e é isso que justifica o uso do “mas”. Outras conjunções com o mesmo sentido são “porém”, “no entanto” e “contudo”. E se eu tivesse escrito:

“Não estudei, ou tirei notas ótimas.”


Alguém entendeu? Pois nem eu. A conjunção “ou”, portanto, não é adequada para o contexto.

Expliquei bem? Entenderam meu ponto? Significado é a chave. Quero opiniões a respeito, e vou gostar de recebê-las nos comentários.



3) Uso de onomatopeias indevidas

Primeiro, o que é onomatopeia:

Significa imitar um som com um fonema ou palavra. Ruídos, gritos, canto de animais, sons da natureza, barulho de máquinas, o timbre da voz humana fazem parte do universo das onomatopeias. […] Ao dizermos que um grilo faz "cri cri" ou que batemos à porta e fazemos "toc toc", estamos utilizando onomatopeias.”

A onomatopeia é um recurso de uso mais frequente e aceito nos quadrinhos, embora alguns escritores de livros infantis, infantojuvenis, de comédia e outros as utilizem de vez em quando. Eu considero que é um recurso de certa maneira informal e um pouco poético pela sonoridade, que não caberia bem num texto sério, por exemplo. Imagine só, você lendo aquela cena de terror, e...



 “—Arf, arf, arf – Ele começou a ofegar quando terminou de descer as escadas. Parecia ter despistado a coisa que o perseguia.
CRASH! Olhou de relance para onde veio o som. Um vaso caíra no chão. 'tum-dum, tum- dum', seu coração batia rápido como um tambor. Vapt! Apontou a arma para o canto da sala e viu uma sombra andando pelo rodapé. Tip, tip, tip. Apenas um rato e seus passos leves. 'Ufa', ele suspirou.”


A cena foi tensa? Assustadora? Emocionante? Não, certo? Então, as onomatopeias não cabem aqui. Questão de bom senso. Em uma história do tipo, vale mais a pena só descrever a ação. A imaginação dos seus leitores dá conta do resto.

Outro uso polêmico é o de onomatopeias de gemidos em cenas de sexo. Por favor, não. Dá mais vontade de rir do que qualquer coisa, não fica legal. Daqui a algum tempo teremos um artigo completo sobre cenas de sexo em histórias, então, fiquem atentos para mais dicas.


4) Sinopses reveladoras demais

Uma sinopse é uma prévia ou trecho curto da história usado como “propaganda” dela para o leitor. Uma propaganda revela todas as características do produto ou só dá curiosidade no consumidor para despertar a vontade de comprá-lo? Segunda opção. A sinopse funciona do mesmo jeito. Então, o que dizer do trecho a seguir?

Fulana se muda para uma cidade nova, uma escola totalmente diferente, faz amigos, descobre que tem poderes sobrenaturais e se apaixona. Porém, um inimigo antigo vai impedir que ela alcance a felicidade em um novo local, ela que teve um passado tão difícil do qual nem mesmo se lembra.”
Eu senti que contou a história toda. Não existem mais surpresas. Acabou o mistério. Se eu já sei tudo o que vai rolar, por que ler? Eu sugiro fazer algo mais assim:
        
Uma mudança de vida é tudo o que Fulana menos precisa. Por que mudar se as coisas pareciam correr bem? Mas um novo capítulo de sua história vai começar assim que iniciadas suas aulas na escola X. E um lado oculto pelo tempo se revelará.”

O que acharam? Mais interessante? Eu também acho. Como eu disse, seja atrativo; os leitores tomam a sinopse como uma vitrine. Se gostarem do que viram, vão ler o resto.

Enfim, galera, por hoje é só isso. Vocês cometem esses erros? Já cometeram em alguma época? O que fizeram para consertá-los? Comentem aqui no post e eu ficarei muito feliz. Até a segunda parte e obrigada pela leitura!

10 comentários:

  1. Acho que tirando as onomatopeias, já cometi os três. Bem, eles foram se ajeitando conforme fui lendo mais e o tempo foi passando. Provavelmente vez o outra cometo algum de virgula ou regência, mas isso eu devo perder ainda mais para frente.
    O que, com muita certeza, mais ajuda é passar a ler mais, melhora qualquer escrita (:

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  2. Nossa... AMEI! O uso das onomatopeias eu aprendi na sétima série, e é realmente algo que eu raramente uso nas minhas fanfics. Ah, o post está realmente excelente. De vez em quando eu troco as vírgulas pelos pontos em seguida, e também já cometi o erro das sinopses, pois eu sou realmente um desastre nesse assunto.

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  3. Estou começando a acompanhar o Blog desde ontem, ah estou amando

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  4. Nunca cometi nenhum deles :3
    Eu ri na parte do ''Tum dum dum'' kkkk

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  5. Obrigado MESMO pelas dicas! Eu admito que nem cogitava o uso de vírgulas ou pontos poderiam ter tanta relevância em um texto, agradeço mesmo! Esse texto me serviu demais! Ainda mais agora que estou fazendo projetos de redação!

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    1. De nada! Ainda bem que gostaste e que te fomos capazes de ajudar!

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  6. Nossa, velho. Estou surpreso, meeeesmo. Na minha concepção, ao menos, não cometi nenhum dos erros listados.

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  7. No começo de minhas fanfics, eu realmente errava muito tipo MUITO... Mas com o tempo fui aprendendo, hoje eu sou mais esperiente nisso, alias meu sonho é um dia lança um livro, só que um dia desses ai eu fui criar uma nova fanfic que se chama "A garota da profecia", só que na hora de eu escrever eu gravei mano, eu tinha tudo na minha cabeça,mas bloqueio do nada... Então eu decidir deixar pra depois e fui em busca de dicas, até porque todo mundo tem erros mesmo sendo experiente nisso até o mais perfeito escritor erra em algumas coisas... E nisso eu achei suas dicas, mano eu realmente amei, elas são muito boas

    Obrigada, serio muito obrigada você me ajudou muito, agora eu to conseguindo escrever o primeiro capitulo

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    1. Ainda bem que pudemos ajudar! É sempre aconselhável anotares as tuas ideias quando as tens de modo a não as perderes quando fores escrever. Fico feliz que o bloqueio tenha passado. Boa sorte!

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O blog da Liga é um espaço para ajudar os escritores iniciantes a colocarem suas ideias no papel da melhor maneira possível.



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