Por que escrever?

quarta-feira, 20 de março de 2013
Por: Leo Albyno


“Eu devo tudo a escrita. Devo-lhe o fato de estar aqui a falar. O diário mostra isso; mostra que, quanto mais eu escrevia, mais claros se tornavam os meus pensamentos; que quanto mais me expressa, mais capaz era de exprimir aos homens ou aos artistas à minha volta o que sentia ou qual era a minha posição. Foi pela escrita que me ensinei a falar com os outros. Gostaria de afastar de todos; o sentimento de que escrever é algo que umas quantas pessoas talentosas fazem. Não são só as pessoas com dons invulgares que narram a sua vida de uma maneira interessante. Na verdade, não tem nada a ver com o valor literário da obra.”¹ – Anais Nin.

Para Anais Nin, a escrita lhe favoreceu a sair do mutismo e a vencer traumas. Ela passou, então, em suas conferências, a orientar que todas as pessoas escrevam independentemente do conteúdo em questão; e que transponham determinado limite de valores literários.

Escrever é muito mais do que segurar-se em regras. Em verdade, é preferível que o autor tenha total ciência da própria língua, pois isto transmitirá confiabilidade e segurança ao leitor, mas nem sempre se deve basear apenas na gramática, visto que, muito além de somente ortografia, o ato de escrever deixa transparecer a alma de quem escreve.

Para escrever, é necessário que você tenha experiência de vida ou que seja bom de imaginação ou, ainda, que sinta dor no peito ou que simplesmente esteja tão alegre que sinta que vai morrer; você pode relatar um fato, ou relatar a vida do seu vizinho, do seu animal de estimação ou simplesmente pode escrever sobre o vazio. Escrever não requer regras. E escrever mostra-lhe o mundo. Pode ser uma resenha, uma carta, uma frase ou até mesmo uma releitura de um livro que você tenha gostado.

Para Drummond:

“Escrever é triste. Impede a conjugação de tantos outros verbos. Os dedos sobre o teclado, as letras se reunindo com maior ou menor velocidade, mas com igual indiferença pelo que vão dizendo, enquanto lá fora a vida estoura não só em bombas como também em dádivas de toda natureza, inclusive a simples claridade da hora, vedada a você, que está de olho na maquininha. O mundo deixa de ser realidade quente para se reduzir a marginalia, purê de palavras, reflexos no espelho (infiel) do dicionário.”² - Carlos Drummond de Andrade.

Então, escrever por quê? Escrever te possibilita sair do mundo real e relatar o imaginário. Torna-o poeta ou simplesmente mais um escritor de romance clichê. Pode-se escrever com fins comerciais ou pode-se escrever por paixão, mas em ambos os casos o autor deve ter base. Traduzindo: para escrever sobre algo você deve ter, no mínimo, o conhecimento – ou imaginar - sobre o que almeja. Nem sempre significa ter as suas ideias compreendidas, porém, no máximo, a escrita deve, pelo menos, despertar vários pontos de vistas sobre determinado assunto, embora nenhum deles sequer passe perto do que você realmente tenha pensado no momento em que dedilhava as palavras em sua máquina ou escrevia em seu papel.

Escrever é comportar um sentimento de se aventurar no desconhecido; é correr o risco de não ser reconhecido e até ser ignorado. Escrever requer emoção, um pouco de alma ou simplesmente um pouco do vazio. É, sobretudo, o contato com o inesperado e uma saída para o possível. Na escrita você é e não somente “wannabe”³.

Escrever não significa saber sobre os altos enigmas da linguagem, mas, sim, saber passar através de suas palavras os seus sentimentos mais íntimos. É muito mais do que a junção de palavras e a formação de frases: é dar significado ao inexplicável. Escrever é fazer do seu jeito! Então, escreva, pois como disse Cesare Pavese: “É bom escrever, porque reúne as duas alegrias: falar sozinho e falar com a multidão.”
                                                                                                                              

Nota:
Wannabe³: Expressão inglesa que é a junção de “wanna” e “be” (querer ser), que significa “querer ser” o que não é.




Materiais consultados: 

Nin, Anais. Por que escrever? Disponível em: <http://www.elba-br.org/elb-publicacoes/pdf/por-que-escrever.pdf >. Acesso em: 16/03/2013.

Andrade, Carlos Drummond de. Escrever é triste in O poder ultra-jovem. Disponível em: <http://www.citador.pt/textos/escrever-e-triste-carlos-drummond-de-andrade>. Acesso em: 18/03/2013.


Leo Albino, beta Reader e supervisor de qualidade, formado em Informática e suas tecnologias, administração e futuro estudante de biomedicina. Escritor amador nas madrugadas, e administrador do perfil no Nyah! <http://fanfiction.com.br/u/273119/>

Um comentário:

  1. Incrível. Pura verdade. O mundo deveria saber dessa postagem. Aplaudi internamente. Merece reconhecimento. Nyah se superando cada vez mais.

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